domingo, 27 de setembro de 2009

Quando a mídia perde o pulso do país

por Luiz Carlos Azenha

Fazendo uma observação grosso modo da mídia brasileira, com algumas notáveis exceções aqui e ali, noto que ela perdeu o pulso do próprio país que deveria retratar.

Nos últimos meses o Brasil confirmou a descoberta do pré-sal, fez uma opção preferencial pela França* e, como integrante do G-20, passou a integrar o grupo de nações que terá forte influência nas regras econômicas internacionais.

O Brasil acaba de concretizar o Banco do Sul em parceria com a Venezuela e a Argentina, com capital que poderá atingir 20 bilhões de dólares; e se move com assertividade no caso da crise de Honduras, com respaldo da grande maioria dos integrantes da ONU e de organismos internacionais.

Qual é a reação a esse novo protagonismo brasileiro?

Uma capa da revista Veja enfatizando o quanto somos fracos, uma cobertura grotesca da TV Globo condenando a postura do governo brasileiro em Honduras e manifestações diversas do colunismo sugerindo que o Brasil se perdeu no caminho, quando todos os fatos indicam na direção contrária: o Brasil encontrou um caminho. Pode não ser o melhor. Pode exigir retificações. Pode dar errado.

Mas os princípios são claros: o Brasil passa a exercer politicamente o papel que lhe cabe como resultado da própria expansão econômica de interesses brasileiros além-fronteiras. A projeção do Brasil obviamente se fará sentir inicialmente nos espaços geopolíticos mais próximos: América Latina e África.

Daí a crescente articulação brasileira nos fóruns internacionais como o Mercosul, o Unasul, o Banco do Sul, o BRIC, o IBAS (Índia, Brasil, África do Sul) e a ASA (América do Sul-África).

* Quando a França resolveu manter-se à margem da estrutura militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), nos anos 60, o fez por considerações geopolíticas, garantindo para si uma margem de manobra muito superior à que teria se submetida ao comando militar dos Estados Unidos numa conjuntura de guerra fria. A França optou por manter suas armas nucleares fora do controle da OTAN. É esse o debate que eu gostaria de ler sobre a opção preferencial brasileira pelos franceses, nesse momento. Trata-se da mesma estratégia de aliança condicional com os Estados Unidos? Em vez disso, no entanto, somos bombardeados por análises pedestres que parecem produzidas como material de campanha para o ano que vem. (Vi o Mundo).



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