Caetano Veloso, na pré-estreia do documentário sobre ele "Coração Vagabundo"; músico polemiza com Lula (Caio Guatelli/Folha Imagem)
Estudantes e comunidade linguística brasileira, tremei! Caetano Veloso acaba de instituir a conjugação entre artigos e substantivos, conforme noticiado pela agência EFE e divulgado pelo Estadão, Último Segundo, Folha Online e UOL Música. A Editoria Terra Brasilis, baseada nas informações disseminadas por estes veículos de comunicação, teceu comentários a respeito do que o Senhor Caetano Emanuel Viana Teles Veloso havia declarado num determinado trecho da matéria. Nesse trecho, ainda segundo os aludidos canais de informação, o cantor e compositor baiano diz: "Eu não me imagino com muita facilidade em outro lugar em que é eleito um presidente que sequer conjuga os artigos com os substantivos".
A Editoria do Terra Brasilis, comprometida com a verdade factual, a lisura e a objetividade no trato com as informações, vem, publicamente, deixar claro que o senhor Caetano Emanuel Viana Teles Veloso não usou o termo "conjuga", mas "concorde". Desse modo, a fala que lhe foi imputada fica sem efeito em alguns trechos dos comentários do Terra Brasilis. A Editoria, no entanto, mantém as informações quanto aos mecanismos sintáticos e flexionais dicutidos na postagem. Leia, a seguir, a postagem original:
Não, não é brincadeira. Pelo caráter narcísico que infesta a alma de Caê e considerando que ele é um intelectual e LULA é um "analfabeto", não devemos duvidar de que o mais ilustre filho de Santo Amaro da Purificação esteja, de fato, mexendo nos mecanismos sintáticos da Língua Portuguesa. O fato se deu quando o baiano afirmou, num discurso em Lisboa, que não imaginava existir um "[...] outro lugar em que é eleito um presidente que sequer conjuga os artigos com os substantivos". (Esse parágrafo deve ser desconsiderado em parte, pois a Editoria do Terra Brasilis continua considerando o senhor Caetano Emanuel Viana Teles Veloso um sujeito (não o compositor) de alma narcísica e doentia.)
Com efeito, LULA "sequer [pode conjugar] os artigos com os substantivos", pois a conjugação é um mecanismo flexional para a classe gramatical dos verbos. Assim é que variamos tais palavras em tempo, modo, número e pessoa. Se pretendermos discutir apenas as flexões de número e de pessoa, passaremos à seara da sintaxe de concordância verbal ou, ainda, estaremos fazendo uso do mecanismo de coesão textual entre o núcleo do sujeito e o verbo.
Já a relação coesiva entre os artigos, os adjetivos, alguns numerais e alguns pronomes com os substantivos não diz respeito à CONJUGAÇÃO, mas à CONCORDÂNCIA NOMINAL a partir do gênero e do número, conforme terminologia adotada.
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Lisboa, 5 dez (EFE) - O cantor Caetano Veloso afirmou que a entrevista na qual chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "analfabeto" foi uma "edição sensacionalista" da "nova direita", mas declarou ter gostado de "quebrar o tabu" de não criticar o chefe de Estado.
"Há pouco, involuntariamente, quase causei um pequeno escândalo no Brasil por ter aparecido em um jornal dizendo que o presidente é analfabeto", disse Caetano, que neste fim de semana está em Lisboa para vários atos sobre o Tropicalismo.
"Realmente, é algo desagradável ver isso escrito na capa de um jornal. Em primeiro lugar, porque não é uma verdade de fato: Lula não é analfabeto. Em segundo, porque este tom se assemelha ao tom grosseiro que tanto me desagrada na nova direita que tem êxito na imprensa do Brasil", afirmou Caetano.
O cantor, no entanto, admitiu que "sequer" pensou em corrigir o que lhe pareceu uma "edição sensacionalista" de suas palavras, já que estava "mais interessado" em quebrar o "tabu" de não poder falar mal de Lula, líder com um alto índice de popularidade em seu país.
Na entrevista, concedida ao jornal "O Estado de São Paulo", o artista chama Lula de "analfabeto" e mostra sua inclinação por Marina Silva, provável candidata do Partido Verde nas eleições presidenciais do ano que vem.
Em outro momento de seu discurso na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, Caetano voltou ao assunto do presidente. O cantor comentou que os linguistas brasileiros fazem uma "grande defesa" do modo de falar de Lula, ao qual atribuem uma forte "significação social e histórica". Porém o também compositor disse não compartilhar dessa visão.
"O fato de Lula falar assim é uma coisa que (...) os lingüistas louvam. Eu me contraponho ao elogio dos linguistas, mas eu mesmo o considero um sinal dessa originalidade brasileira, que vem de sermos portugueses, de termos colonizados dessa maneira", acrescentou Caetano.
O baiano tornou a falar dos poucos anos de estudo de Lula. Ele comentou que o Brasil é um país peculiar em vários sentidos, inclusive no de escolher um presidente com essas características.
"Eu não me imagino com muita facilidade em outro lugar em que é eleito um presidente que sequer conjuga os artigos com os substantivos", disse.
O artista, que discorreu sobre a influência da obra "Mensagem", do poeta português Fernando Pessoa, sobre o movimento Tropicalista, desta vez também elogiou Lula.
"Lula é um sujeito idolatrado no Brasil. Ele tem uma carreira política brilhante e está fazendo um Governo importante e bom, apesar de haver coisas ruins, mas essas são complicações políticas nas quais eu não quero entrar", disse diplomaticamente o músico baiano.
2 comentários:
Admiro o artista Caetano, embora estranhe alguns dos posicionamentos do cidadão Caetano. Entretanto, permita-me lembrar que o termo Conjugar significa também, de acordo com dicionários conhecidos, "unir(se), juntar(se), ligar(se) harmonicamente a ou com (algo ou alguém); combinar-se" (concordar com). Por isso, discordo que houve erro na expressão "conjugar os artigos com os substantivos". Obrigado.
Olá, Caro(a) Anônimo(a) (Teria sido interessante a identificação). Boa tarde!
A sua lembrança quanto ao sentido do termo Conjugar é bem-vinda, sim. Entretanto, gostaria de lembrar também que estamos discutindo terminologia gramatical nos moldes como ela nos é proposta. Assim é que, de acordo com a terminologia usada, não se conjugam artigos com substantivos: Flexionamos os artigos com os substantivos e conjugamos as formas verbais em tempo, modo, número, pessoa, voz. Como a corroborar a defesa de que conjugar não se aplica aos artigos e aos substantivos, invocamos as duas últimas acepções do Aulete digital para o termo CONJUGAR:
2.Gram. Expor ordenadamente as flexões de (um verbo); ter uma série de formas flexionadas, relativas aos diversos tempos, modos, pessoas e números. [td.: conjugar o verbo pôr.] [int.: O verbo 'deter' conjuga -se pelo 'ter'.]
3.Dar ao verbo determinada forma específica (flexão), com a correta terminação relativa a (pessoa e número, tempo, modo) [td.: conjugue o verbo pôr no pretérito perfeito/ na 2a pessoa do singular] [int.: Os verbos impessoais, como chover, usualmente só se conjugam na 3a pessoa do singular.].
Este dicionário traz a acepção apresentada por você, mas a adequação vocabular não permite o uso desse sentido para a terminologia gramatical.
Abração, bom domingo e obrigado pela colaboração!
ps. Gostaria de tê-lo ou tê-la invocado pelo nome, mas você se "anonimou"... rsrs
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