Pelas noites de vigilia que passei chorando a ausência de meu filho e a incerteza de seu destino;
Pelos dias, horas e minutos que vivi, numa quase obseção esperando que alguém chegasse, e de repente, ao meu apartamento para me dizer onde e como ele estava ;
Pelos sete anos que passei sem poder me concentrar em nada, porque em mente só cabia sua imagem;
Pelo medo, que tantas vezes me assaltou, te-lo de volta inutil e deformado pelas torturas; Pela miséria que eu vi nesse Basil de norte a sul;
Pela vergonhosa impunidade dos torturadores e assassinos,
Pela saudade mais cruel que me acompanhou ao longo desses sete anos e que agora há de prolongar-se pelo resto de minha vida;
Por toda a transformação que meu filho tanto desejou ver neste país faminto e esquecido;
Tenho a mais profunda convicção de que uma força, bem maior que a capacidade de matar de seus assassinos, há de dar o merecido castigo aos que planejaram e aos que executaram todo esse horror que está aí, presente, nas faces e nos olhos das mães, esposas, filhos e irmãos daqueles que foram estupidamente torturados e assassinados e dos que ainda sofrem nas prisões!
Não choro de pena do meu filho. E, se fosse possivel voltar onde ele está, eu lhe pediria para continuar pensando e agindo como sempre pensou e agiu. Ainda que isso importasse novamente em ele ser assasinado. Pois prefiro vê-lo morto uma ou mil vezes a tê-lo ao meu lado numa conscência inutil, estupida e criminosa! LUIZ EURICO TEJERA LISBOA . Seu espírito há de pairar sobre os justos movimentos reinvidicatórios deste país, dando força, lucides e coragem aos seus participantes! LUIZ EURICO TEJERA LISBOA: onde quer que vc esteja há de estar pedindo justiça e liberdade para esse povo humilde e esquecido que ele tanto amou!
Porto Alegre, 10 de setembro de 1979
Extraido do livro "dos filhos deste solo" de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio
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