"Esse acordo foi idealizado por eles (potências) como forma de se criar confiança. Bom, você não pode tentar criar confiança e ao mesmo tempo fazer ameaças", disse o chanceler, referindo-se à intensificação de um movimento a favor de sanções econômicas a Teerã.
Na entrevista, o chanceler se diz "desapontado" com a reação dos Estados Unidos e outros membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
"Esperamos que se dê pelo menos uma pausa nessa discussão (das sanções), enquanto se vê se esse curso (do acordo) funciona", disse.
O governo brasileiro tem argumentado que o acordo assinado na última segunda-feira com Irã e Turquia é o mesmo que foi apresentado em outubro passado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com o apoio das grandes potências.
Já o governo americano argumenta que a quantidade de urânio no Irã aumentou significativamente desde então, colocando em xeque a validade do acordo assinado em Teerã.
Segundo Amorim, essa preocupação não foi apresentada oficialmente ao governo brasileiro nos contatos com as principais potências antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã.
"Na verdade, em algumas dessas comunicações, essas autoridades inclusive enfatizaram que o acordo seria uma oportunidade", afirma o ministro.
"Você sempre poderá encontrar outros problemas, outros defeitos, para justificar que a situação mudou", acrescenta.
Na avaliação do ministro, o "ceticismo" das potências ocidentais acabou prejudicando as discussões sobre um acordo com o Irã.
Para Amorim, esses países "não acreditaram" que Brasil e Turquia conseguiriam chegar a um entendimento com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
"Eles estavam provavelmente esperando que voltássemos do Irã de mãos vazias e que isso confirmaria que eles estavam certos, e que isso aumentaria a pressão pelas sanções", diz o ministro.
"Eu acho que o ceticismo deles era tão grande com relação à possibilidade de a gente obter um acordo que nós não chegamos a esse ponto da discussão", acrescenta.
Contatos
Amorim se diz "esperançoso" de que a resolução com as sanções econômicas ao Irã não chegue a ser votada na ONU, mas nega que o Brasil esteja "buscando votos" contrários à medida.
"Não estamos cabalando voto pra nada. Esse não é nosso papel. E eu espero que nem cheguemos ao ponto de votar as sanções", afirma o ministro.
Nos últimos dias, Amorim conversou por telefone com ministros de países que estão no Conselho de Segurança e que, portanto, poderão votar a favor ou contra as sanções.
Segundo o ministro, o objetivo desses contatos é apenas o de "esclarecer" alguns pontos do acordo, e não de buscar aliados em uma possível votação, como chegou a ser cogitado.
Direitos humanos
Questionado sobre um possível papel do Brasil como interlocutor do Irã em assuntos de direitos humanos, Amorim disse que as questões não podem ser tratadas "todas de uma vez só".
A avaliação do ministro é de que o Brasil pode "dar uma palavrinha ou outra" sobre o assunto, mas não sair "com dedo em riste".
"Além disso, existem outras instâncias para isso, inclusive as multilaterais", disse.
Para o chanceler, "imperfeições" em direitos humanos "existem em muitos países", mas que "certos países, em certos momentos, são singularizados, por motivos que não têm a ver somente com direitos humanos".
Fonte: BBC Brasil
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