ALGUNS PECCADOS SEXUAES CONTRA A NATUREZA DENUNCIADOS AO VISITADOR E INQUISIDOR HEITOR FURTADO DE MENDONÇA ENTRE OS ANOS DE 1593-1594*
06 de Novembro de 1593
Mônica Contra Fernão Soares, Maria de Lucena e Margarida
e dixe ser brasilla índia deste Brasil natural do sertão desta Capitania filha de pai e mãi pagãos mas sua mãi e ella denunciante sendo de ydade de quatro annos se fizerão cristãos e bautizarão nesta villa, de ydade de trinta e cinquo annos, e que se criou e sempre morou atégóra e inda ora está em casa de Clara Fernandes tia do alcaide mor desta Capitania, e que posto que em casa a nomeam e tem por escrava e como a tal lhe puserão ferrete nas faces comtudo ella verdadeiramente não he escrava mas é forra e licre, e assim ho era sua mãi forra e livre que por sua própria vontade a trouxe do sertão a esta villa.
[...]
e denunciou mais que averá quinze annos pouco mais ou menos que em casa da ditta sua senhora estava huã sua parenta chamada Maria de Lucena que ora está casada com Antonio da Costa na Parahyba que já então era molher qu tinha parydo e por quanto em casa se dezia que ella dormia carnalmente com as negras da casa, huã noite sentindo ella denunciante que a ditta Maria de Lucena se erguia da rede e sobia acima a huã câmara de sua senhora aonde estava huã negra brasilla chamada Margayda que ora he escrava do ditto alcaide-mor se ergueu também da sua rede e se foi pella escada acima manso espôs a ditta Maria de Lucena e pondosse manso junto da ditta Maria de Lucena e da ditta Margayda que já estavão juntas as sentio estarem ambas no chão huã sobre outra fazendo movimento e signais como faz hum homem com molher que conheceo ella denunciante bem estarem se ambas tendo se ajuntamento carnal, e não podendo ella denunciante sofrer aquella torpeza cospio nellas dizendo que não faziam ellas aquilo por falta de homens e pella menhaã rogou a dita Maria de Lucena que se callasse
e por não dizer mais foi amoestada pello senhor visitador que não falle nesta mesa senão verdade porque faltando mentira será muito castigada, dize que tudo que aqui tem dito he verdade
*Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil; Denunciações e Confissões de Pernambuco 1593-1594. Recife, FUNDARPE, Diretoria de Assuntos Culturais, 1984, pp.47-50
Leia a Parte (I).
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