O HOMEM PÚBLICO DUNGA

Da editoria-geral do Terra Brasilis

Pretendia escrever algo que pudesse expor, de maneira tão precisa quanto possível (e embora algo sempre escape ao escritor na busca dessa precisão, isso é, definitivamente, a meta de quem se dispõe a escrever), o que acho das atitudes de Dunga face a pontuais contrariedades e do lixo midiático que é a Rede Globo. Desta não é necessário dizer palavras, pois a Blogosfera contribuiu muito para fazê-la mais lixo do que já era, desnudando a parcialidade, a partidarização num processo eleitoral e a desinfomação proposital, absurda e imoral de um veículo de comunicação cuja vida está atrelada a uma concessão pública. Quanto a Dunga, é preciso esclarecer que ele, como homem público, não tem se mostrado talhado para o cargo que lhe fora confiado. Ser técnico de uma instituição como a Seleção Brasileira requer saber preservar, a todo custo, a convivência democrática; requer estar predisposto às críticas e aos aplausos.

Dunga me parece não agregar esta predisposição: é truculento, mal-educado (haja vista a forma como tratou o Presidente Lula, antes de partir com o selecionado para a África do Sul - AQUI), arrogante, desequilibrado. Não se deseja dizer com isso que ele não seja um excelente filho, esposo, pai, amigo. O Dunga que fotografo aqui é o homem público, técnico de uma das mais respeitadas seleções do mundo.

Infelizmente, a nossa querida seleção está sob o comando de uma pessoa difícil, incapaz de dirigi-la e de manter o respeito que ela conquistou. Infelizmente.

Já tive oportunidade de externar minha opinião quanto à Copa de 2010 (AQUI). Que me desculpem os entusiastas do hexa, mas estamos diante de uma conquista improvável... Esta não é a nossa Copa. Esperemos pela de 2014. Aqui, corro o risco de ver minhas previsões irem por algo abaixo, mas... Fazer o quê?

Como dissera no início, pretendia escrever sobre Dunga e a Globo, entretanto ninguém o fez de forma tão precisa quanto o colunista Fernando de Barros e Silva, sobretudo em relação ao atual técnico brasileiro. 

Abaixo o artigo postado no Blog Náufrago da Utopia, de Celso Lungaretti:

UM ARTIGO EXEMPLAR: "SUBDUNGUISMO NA REDE"

Sempre que um colega consegue esgotar um assunto do interesse de meu universo de leitores com seu texto inspirado, faço questão de reproduzi-lo aqui. É o caso de "Subdunguismo na Rede", do colunista Fernando de Barros e Silva, que veio inteiramente ao encontro da avaliação que fiz da baixaria do técnico Dunga na coletiva da Fifa: ele tinha todo direito de confrontar a Globo, com meus aplausos; mas nenhum de hostilizar um profissional que só estava executando o seu trabalho e merece minha irrestrita solidariedade. Eis a íntegra:

"Entre a velha promiscuidade da CBF com a Globo e a truculência de Dunga no trato com os jornalistas, a escolha é muito simples: criticar as duas.

"O monopólio do acesso à seleção, derivado da audiência e obtido durante várias Copas pela Globo, fez fermentar uma cultura bocó e nociva, na qual as fronteiras entre jornalismo verde-amarelo e negócios nem sempre foram claras. Isso, é bom destacar, a despeito da seriedade e da qualidade de muitos profissionais que atuam na emissora.

"Até mesmo num assunto tão sério como o futebol, a sociedade ganha quando há pluralismo, opções de escolha, debate, divergências - enfim, imprensa independente.

"Quando se volta contra profissionais da Globo, Dunga não está preocupado com o direito à informação desimpedida. Isso não existe no seu horizonte. Ele não aceita, não tolera e não perdoa a crítica. E exibe isso com um grau de franqueza que deve incomodar o espírito de compadrio & cia. que rege a CBF.

"Dunga é uma figura tosca e autoritária. Naquela instrutiva entrevista que concedeu ao convocar a seleção, disse que não poderia avaliar se a ditadura brasileira foi boa ou ruim: 'Só quem viveu é que pode nos dar a resposta'. Não satisfeito, foi mais longe: 'É a mesma coisa sobre a época da escravidão. Eu não vivi, como é que vou dizer - ah, era ruim, era bom, não sei'.

"Depois da história, a moral e cívica; depois da teoria, a aula prática: na sua recente coletiva, o 'professor' primeiro interpelou de forma intimidatória o repórter da SporTV que havia balançado negativamente a cabeça - 'algum problema?'. A seguir, o insultou com palavrões em voz baixa, repetidas vezes.

"Foi o que bastou para que o assunto invadisse a seara política. Na blogosfera, militantes do PT e da candidatura Dilma Rousseff transformaram o técnico em herói da resistência antiglobal.

"Espalhou-se na rede um subdunguismo eleitoral. Soa como um sintoma - como dizer? - de fascismo democrático"...

Do Blog Náufrago da Utopia