...na Bolívia
GilsonSampaioInfelizmente, aqui na terrinha, esse sonho é só um sonho.
Brasil de Fato - A partir de 2011, o livro "As veias abertas da América Latina" deverá ser adotado por todas as escolas do país.
O anúncio foi feito pelo vice-ministro de Descolonização, Félix Cárdenas, durante o 1º Encontro Nacional do Processo de Descolonização, realizado durante esta semana na cidade de La Paz.
Em entrevista ao jornal boliviano Cambio, Cárdenas afirmou que, "a partir de 2011, o Ministério de Educação estabelecerá que a obra de Galeano deve ser necessariamente assumida como um livro base de leitura (...) O livro 'As Veias abertas da América Latina' permite ter uma outra visão, já que desestrutura a história colonial da região", disse Cárdenas. De acordo com o vice-ministro, outros livros serão incluídos, como os do sociólogo Zavaleta Mercado, "que inspiraram a revolução de 52".
O livro do historiador, escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano foi publicado em 1971. A obra analisa a história da América Latina desde a colonização européia, com crônicas e narrativas do constante saqueio de recursos naturais da região, divididas em duas partes: "A pobreza do homem como resultado da riqueza da terra" e "O desenvolvimento é uma viagem com mais náufragos que navegantes".
As veias abertas da América Latina" também será transformada em música na Bolívia. Segundo Cárdenas, o grupo mexicano Bolas Uriana virá à Bolívia, visitará vários departamentos em encontros, principalmente, com povos indígenas para, então, musicalizar o livro. Também há a intenção por parte do vice-ministério de teatralizá-lo.
Despatriarcalização
Cárdenas também destacou a recente criação da Unidade de Despatriarcalização, como órgão interno do vice-ministério de Descolonização. "Parece insignificante, isso deveria ser um ministério, mas o que estamos fazendo é transgredir as condutas coloniais, porque não se trata de lutar contra o homem a partir do feminismo, senão de desestruturar o patriarcado como forma de poder".
De acordo com o vice-ministro, a Unidade de Despatriarcalização está conformada por mulheres indígenas, muitas delas ex-congressistas constituintes, eleitas durante o processo que aprovou a atual Constituição boliviana. "A construção da nova Constituição implica isso, desmontar a conduta colonial", apontou Cárdenas.
7 comentários:
Então quer dizer que o plano educacional, ao invés de priorizar um ensino de alto padrão qualitativo, vai optar pela inserção maciça de idéias retrógradas e sem fundamentos no meio educacional do país? Ao invés de educação, a tendência se torna, com o tempo, a opção pela doutrinação ideológica a partir dos ideários da esquerda? Será?
Caro prof. Jeferson Pereira, boa noite.
O que seria "priorizar um ensino de alto padrão qualitativo"?
Acaso, esse projeto educacional a que o nobre educador faz referência deve excluir as possibilidades de reflexão sobre um tempo [historicamente demarcado] em que houve espoliação de povos por colonizadores, por exemplo? A história dos vencidos deve ser esquecida? O senhor já leu "As Veias..."?
Por meu turno, acredito estar existindo, aí, um equívoco avaliativo de sua parte, além de gravíssimo para quem é professor e historiador.
Grande abraço e obrigado pelo comentário.
Caro Prof. DiaAfonso,
Quando faço referência a um "ensino de alto padrão qualitativo", prezo pela necessidade de melhorias consideráveis no setor educacional (público) brasileiro. Ou V.Sa. acha que as condições em que se encontra o ensino brasileiro são adequadas às pretensões desenvolvimentistas nacionais?
Quanto ao fato da mencionada exclusão de reflexões "sobre um tempo [historicamente demarcado] em que houve espoliação de povos por colonizadores", afirmo com convicção que toda e qualquer reflexão se faz necessária. No entanto, os seus argumentos (que acredito estarem em consonância com o ilustre Galeano) já não encontram respaldo em muitos círculos intelectuais, uma vez que as próprias condições e conseqüências dessa suposta "espoliação" já vem sendo questionada.
Quanto a obra de Galeano, eu afirmo que, durante a minha graduação, efetuei a sua leitura e discuti sobre ele diversas vezes com meus professores. Concluindo, não considero que os argumentos do autor sejam sustentáveis e, por esse e outros motivos, não vejo com bons olhos a sua utilização em salas de aula.
Já que falamos sobre obras, lidas e não lidas, gostaria de saber se V.Sa. já efetuou a leitura da obra Manual do Perfeito idiota latino-americano? Se não o fez, eu recomendo!
Não conhecia o seu blog, mas foi justamente procurando a nova edição do livro do Galeano (a minha está surrada pelos efeitos do tempo) que o encontrei. Agradeço pela abertura deste espaço, pois admiro pessoas que se predispõem a argumentar sobre seus posicionamentos.
Continuarei acompanhando as suas postagens, pois o fato de discordar de muitos de seus argumentos não fará com que eu os ignore. Afinal, devemos considerar e respeitar as percepções dissonantes as nossas, mas isso não nos impede de argumentar sobre elas.
Ahh! Não deixe de ler o manual...,
pois a partir dele V.Sa. poderá (ou não) dar maior consistência aos seus argumentos.
Um grande abraço!
Olá, caro prof. Jeferson Pereira. Bom dia!
Primeiro quero louvar a possibilidade de diálogo que se estabeleceu. Normalmente, alguns comentaristas, quando sentem sua posição preterida por uma contra-argumentação qualquer, abandonam a conversa "civilizada" e partem para ataques infantis e histéricos. Não foi o seu caso, ainda que eu não tenha preterido suas colocações.
A questão que volto a colocar é: por que "ensino de alto padrão qualitativo" teria que abdicar de um debruçar-se histórico a partir de uma obra, como a de Galeano, por exemplo? Acaso a Mein Kampf [Adolf Hitler] não poderia ser incluída numa possível lista de reflexão histórica? Até onde estas indicações comprometeriam a tal busca de um ensino de qualidade?
O fato de um círculo de intelectuais não concordarem com o que é posto na obra de Galeano não a faz menor. São pontos de vistas, caro prof. Jeferson. Sua conclusão sobre o que está em "As veias..." é um ponto de vista com o qual eu possa concordar ou não.
Quando vc [peço-lhe licença para tratá-lo assim, se concordar, claro. Quanto a mim, não precisa me tratar de "V.Sa.". Pode me chamar de DiAfonso... não estamos num embate acadêmico strictu sensu rsrs] se posiciona, dizendo que, para alguns intelectuais, "as próprias condições e conseqüências dessa suposta "espoliação" já vem sendo questionada" isso me assusta, porquanto parece nos levar à negação do que historicamente ocorreu do ponto de vista dos "espoliados".
Sinceramente desconheço tal hipótese histórica. Seria muito bom ter acesso a ela, embora esteja com uma lista de obras para estudo imensa e... sem tempo... rsrsrs.
Finalmente quero lhe dizer que ainda não entendi a relação entre a inclusão da obra de Galeano e a busca de um ensino de qualidade.
Não li o "Manual do Perfeito idiota latino-americano". Pretendo fazer uma busca tão logo me seja possível.
Você já leu "A incrível e fascinante história do Capitão Mouro", do Georges Bourdoukan? Narrativa interessante para compreender uma parte da História do Brasil em que costumes, ideologias e vida de, basicamente, três etnias [dos brancos colonizadores e seus asseclas, dos negros na figura de Zumbi e dos índios]se cruzam. Recomendo.
Grande abraço, prof. Jeferson, e obrigado, uma vez mais, pelo comentário. Obrigado, também, pela consideração às publicações ao TB.
Saudações mais uma vez caro DiAfonso!
A intenção, quando de meu comentário inicial, foi apenas a de explicitar o meu ponto de vista. Neste caso, levando em conta a sua consideração pelas minhas percepções, não me resta alternativa a não ser respeitar seu posicionamento.
Com relação aos meus argumentos, tenho a dizer que, considerando a conjuntura atual, as condições do ensino brasileiro e a predominância de elementos ditos de esquerda nesse meio, o meu temor é de que a obra do Galeano, ao invés de ser devidamente submetida a processos reflexivos, deixando aberto o espaço devido a outras vias interpretativas, se torne apenas mais um instrumento de doutrinação ideológica (como, muitas vezes, é utilizado em alguns centros acadêmicos). Concluindo, além de ter este temor maior, não considero o livro de Galeano uma obra de qualidade e não acho que ela possa trazer resultados positivos ao ensino e, consequentemente, ao futuro da sociedade brasileira. Pelo contrário, enquanto mantivermos ideários tendentes a obstar o desenvolvimento capitalista, a tendência é o atraso e a decepção cíclica, ao invés do progresso e de melhorias na qualidade de vida das pessoas.
Na obra Manual do perfeito idiota latino-americano existe um capítulo dedicado especificamente à obra de Galeano (é o capítulo intitulado A bíblia do idiota). Nele os autores especificam vários pontos negativos do livro. Existem ainda outros autores que questionam os argumentos contidos em As veias... Caso tenha interesse em se aprofundar no assunto, fica a dica.
Mais uma vez agradeço o espaço concedido e, conforme já disse no comentário anterior, informo continuarei acompanhando as suas postagens.
Encerro aqui a minha participação neste tópico.
Um grande abraço!
Caro DiAfonso,
Só para constar, não pude deixar de notar a sua visita ao meu blog.
Desde já agradeço.
Fique a vontade para comentar, criticar e argumentar. É de intelectuais como você que precisamos. Não importa o posicionamento, o que importa é a predisposição para discutir a argumentar sobre eles, pois, somente assim, teremos a possibilidade de crescer cultural, social e intelectualmente em nossa busca por um mundo melhor.
Um grande abraço!
Caro prof. Jeferson,
"Ói eu aqui de novo" [como dizia, em uma de suas canções, Luiz Gonzaga].
Bom,como afirmara, são pontos de vista. O temor "esquerdizante" a que vc alude não encontra eco nas ações do governo. Basta observar o que se propôs quanto ao aspecto da inclusão dos que sequer tinham acesso às universidades.
A educação brasileira está boa? Não! Precisa melhorar? Claro que sim... e muito!
Agora não é, volto a dizer, a presença de uma obra, como a de Galeano [é bom frisar que ela é escalada, na Bolívia, como "livro base de leitura" para que se tenha uma outra visão da história. Só não sei que tipo de reflexão o Félix Cárdenas está propondo com esta inclusão], que fará a educação pouco qualitativa.
Acho interessante quando vc afirma que "enquanto mantivermos ideários tendentes a obstar o desenvolvimento capitalista, a tendência é o atraso e a decepção cíclica, ao invés do progresso e de melhorias na qualidade de vida das pessoas." Por que eu considero esta colocação interessante? Porque vai de encontro a tudo que penso e muitos intelectuais [como Noam Chomsky, por exemplo] sobre o sistema capitalista. Basta observar que este sistema jamais promoverá "qualidade de vida das pessoas". Um ligeiro olhar para o coração do capitalismo [EUA]que este país é a propria figura de uma sociedade doente, segregadora, pouco afeita a gerar qualidade de vida para as pessoas e está passando por crise no sistema muito séria.
Ademais, reafirmo a satisfação de poder entabular uma prosa com alguém inteligente que, como você, apresenta respeito pela diversidade de opiniões.
Não sei se fez uma visita mais demorada ao Terra Brasilis, mas, se o fizer notará que tenho posições de defesa do governo Lula e do recém-eleito governo Dilma. Representam os melhores governos? Não, mas eles iniciam uma série de tranformações que, espero, tendam a se aprofundarem para o bem do Brasil e dos brasileiros que, em governos anteriores, nunca tiveram voz.
Você não me respondeu se leu a obra do Georges Bourdoukan rsrs
Grande abraço!
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