Uma matéria foi publicada no website da Folha, nesta terça-feira (29), com o seguinte título:
Mercadante acusa Alckmin de fugir do debate; tucano diz que PT o restringe e à imprensa
O leitor desatento, que ignora o histórico de manipulação do jornal dos Frias, talvez não note a real intenção do editor, que atribui valores distorcidos às declarações dos políticos ao inverter os verbos declarativos "acusa" e "diz".
Dizer que o autor do título recorreu a tal prática para favorecer o candidato tucano, Geraldo Alckmin, seria óbvio demais. E, além do mais, a manobra é bastante comum, sobretudo durante períodos eleitorais.
Acontece que, com esse simples trocadalho do carilho, a Folha minimiza a declaração de Mercadante, confirmada pela própria matéria, e vende a idéia de que o PT deseja implantar a censura no país.
Considerando que o leitor seja apenas desatento, a leitura dos primeiros parágrafos da matéria é suficiente para ele notar qual dos postulantes fez uma acusação (aqui), mesmo que a deturpação dos fatos se repita no texto. A denúncia do tucano, vale ressaltar, jamais será classificada como uma acusação.
O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin, recorreu à discussão sobre liberdade de imprensa no país para rebater a acusação do adversário Aloizio Mercadante de que ele não quer o debate.
Em todos os blocos do debate promovido pela TV Globo, pelo sorteio, Alckmin pode perguntar antes de Mercadante, e nunca se dirigiu ao petista. Pelas regras do debate, como Alckmin já havia respondido a perguntas, Mercadante não pode perguntar a ele, e estrilou.
"O Alckmin faz o ataque ao PT pelas costas. Devia perguntar pra mim. Muita gente se escondeu e não fez o enfrentamento para termos ampla liberdade de imprensa no Brasil".
Mercadante o criticara por fazer ataques na propaganda na TV e evitar o confronto direto.
"O programa dele passou o tempo inteiro me atacando. Na hora de chegar aqui, olhar no olho, não tenho a oportunidade do debate', afirmou o candidato petista.
Comprova-se no relato que o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, Alckmin, evitou debater com o seu principal adversário. E mais: Alckmin "recorreu à discussão sobre liberdade de imprensa no país para rebater" a reclamação de seu principal adversário, Mercadante. Ou seja, lançou mão de uma acusação para se esquivar do confronto com o petista.
O leitor sugere o reparo do título, desta vez mais condizente com o que foi narrado na matéria:
Mercadante diz que Alckmin foge do debate; tucano acusa o PT de restringir a ele e à imprensa e evita o confronto
Para finalizar, vejamos o que diz o Manual de Redação da Folha de S. Paulo sobre o uso dos verbos declarativos.
Verbos declarativos - Use apenas para introduzir ou finalizar falas dos personagens da notícia, não para qualificá-las ou para insinuar qualquer opinião a respeito delas. Evite, assim, verbos como admitir, reconhecer, lembrar, salientar, ressaltar, confessar, a não ser quando usados em sentido estrito. Nenhum deles é sinônimo de dizer. Ao empregá-los de modo inadequado, o jornalista confere caráter positivo ou negativo às declarações que reproduz, mesmo que não tenha a intenção.
Use de preferência os verbos dizer, declarar e afirmar, os mais neutros, quando o objetivo for apenas indicar autoria de uma declaração[...].
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