Currículo: Para um presidente da República “alfabetizado”, que ignora plural e concordância, até que o palhaço Tiririca se expressa direitinho... (aqui)
Para o jornalista Cláudio Humberto, "plural" e "concordância" são "fenômenos" linguísticos que devem ser vistos cada qual na sua gavetinha, portanto longe do processo que os engendra: a enunciação que se manifesta oralmente ou por escrito.
Ora, a análise do que Lula diz ("atentando" contra a dita norma padrão, para os puristas da língua) é sempre feita, de maneira preconceituosa, no momento da produção de sua fala. Desse modo, a língua passa de uma entidade estática para a expressão dinâmica dos mecanismos linguísticos que a constituem. Dizer que o "alfabetizado" Lula ignora "plural" e "concordância" é fazer uma crítica maculada pelo estreitismo de quem, por ignorância ou por galhofa, pretende apenas ridicularizar, sem atinar para o próprio ridículo em que está se envolvendo.
Com efeito, didaticamente, há de se dizer que o plural de "coisa" é "coisas", por exemplo. Entretanto, esse enfoque singular/plural só terá sentido na produção contextualizada, mais "elástica" e não fora dela. Assim, parece-me que o Cláudio Humberto não teve competência para expressar isso, porquanto estaria mais preocupado em criar um ambiente de gozação e... de preconceito. Vejamos dois momentos dessa análise:
- "Coisa" (singular); "Coisas" (plural). Não há, aqui, "desvio" nenhum no uso dessas palavras na língua.
- Essas "coisa", sabe, é o que tem me levado a construir o Brasil para os brasileiros. Nessa suposta frase atribuída ao presidente Lula, pode-se perceber que a concordância foi comprometida, do ponto de vista de uma linha gramatical normativa e padrão.
Assim, o "plural" só toma vida no processo de concordância, neste caso, nominal, gerado no seio de uma enunciação mais abrangente. De forma isolada, o substantivo "coisa" não produz nenhum "equívoco" quanto à norma padrão, e o presidente Lula não ignora o plural, como quer fazer crer o nobre jornalista. Lula pode ignorar o plural no momento em que a concordância se deve fazer presente, de acordo com uma visão normativa da língua.
Para finalizar, o caro jornalista esqueceu-se de perceber que, só no processo enunciativo em que os mecanismos de concordância sejam ativados, se pode falar em ignorar o "plural".
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