domingo, 28 de novembro de 2010

O Senador e a Jornalista (Partes III - IV - V - VI)

- Su?
- Sim.
- Estou indo para Brasília.
- É mesmo?
- É. Vou a convite do Senador.
- Juuuuuuuura!
- Ele mandou passagem e disse que vai arrumar um emprego para mim como repórter de TV.
- Cuide-se menina e qualquer coisa que precisar é só ligar.
- Um beijo minha amiga. Você mora no meu coração.
- Você também.
Su desligou o telefone e pôs-se a lembrar. Santa estava na pior quando se conheceram. Sem mais nem menos, o dinheiro que o prefeito mandava minguou. E voltar para o norte de Minas nem pensar. Para pagar faculdade e todas as despesas no Rio, só mesmo "usando o diploma que Deus deu". A boate em Copacabana era ponto de encontro de drag queens e garotas de programa. Santa era uma unanimidade, principalmente entre os fuzileiros navais, que vinham de intercâmbio. Santa também frequentava os books dos principais hotéis da zona Sul. E, sempre que convidavam, figurava num programa de humor.

- À beira-mar ou pelo Túnel Rebouças? Perguntou o taxista.
- Vamos pela orla, respondeu Santa.
Enquanto o carro seguia veloz, a jovem jornalista fazia planos. Faria carreira de repórter de política em Brasília. Se tudo desse certo poderia até se casar. O Senador seria apenas a ponte para um caminho seguro. Rico e maduro, não daria um pingo de trabalho, desde que ela soubesse como levar. Mas teria que ser bastante cuidadosa, para ninguém desconfiar. Em Brasília? Difícil...

- Boa tarde.
- Tenho uma reserva.
- Preencha esta ficha, por favor.
- Claro.
- Aqui estão as chaves. O apartamento é o 1202.
- Obrigada.
O hotel era no Plano Piloto. Da varanda avistava-se a Esplanada dos Ministérios e lá no final o Congresso Nacional. A emissora era próxima. Durante algum tempo era ali que ela iria morar.
- Alô.
- Fez boa viagem, meu bem?
- Oi meu amor, fiz sim. Quando vamos nos ver.
- Na quinta-feira combinamos como fazer.
- E até lá eu faço o quê?
- Alugue um carro, passeie, vá às compras. Aproveite! Você ainda está com aquele cartão de crédito que deixei com você?
- Sim.
- Então agora ele é todo seu, pode gastar.
- É mesmo?
- É mesmo. 

Com indicação do Senador a vaga apareceu fácil na emissora. A jovem jornalista era bonita, tinha voz boa e sabia bem como se comportar. Mas tinha muita dificuldade em juntar as partes de uma reportagem de TV. Contou com a ajuda sempre prestativa do chefe de reportagem da tarde que, depois do expediente, ía para a ilha de edição com ela, mostrava os trechos mais importantes das entrevistas e dava idéias de como fazer para amarrar o texto. E, claro, sempre que tinha chance, passava uma cantada na garota. Ela gostava de tudo, inclusive dos galanteios do experiente jornalista, casado e pai de duas lindas filhas já adultas. Numa noite, num bar, achou que podia levar aquela história adiante, só para experimentar. Dali em diante passaram a se curtir de vez em quando.
- Como vai o trabalho? Perguntou o Senador.
- Vai bem, meu amor. Acho que estou evoluindo. O Ícaro, chefe de reportagem, é um sujeito muito legal. Faz tudo o que está ao seu alcance para ajudar.
- Ah, que ótimo, respodeu o Senador, meio desinteressado.
- O que vamos fazer?
- O de sempre, oras.
- Então tá.  
Os dois seguiram no carro de vidros escuros até a mansão mobiliada à venda no Lago Norte, onde estavam acostumados a se encontrar. Era sempre a mesma coisa. Ela apanhava um táxi na porta do hotel, seguia para a Asa Norte e, no ponto pré-determinando, esperava discretamente o carro dele chegar. Sempre tinha uma mochila grande com fantasias (enfermeira, coelhinha, can-can...), maquiagem, cremes e uma troca de roupa, para o caso de numa emergência o pessoal da TV chamar. Os encontros duravam algumas horas. Champagne francês nunca faltou e quase sempre os dois recebiam comida de algum restaurante, pizzaria ou lanchonete que mandavam entregar. Depois de tudo, ele sempre a deixava num posto de gasolina onde ela pegava outro táxi para voltar ao hotel.

- Su, é a Santa.
- Menina, tá viva?
- Sim, estou aqui em Brasília.
- Já faz tempo, heim?
- Oito meses.
- E o trabalho?
- É duro. Começo bem cedo, faço uma entrada ao vivo para o telejornal da manhã, gravo dois flashs para a programação local e faço uma reportagem para o telejornal da hora do almoço. Às vezes passo das duas, quando tenho que deixar alguma coisa gravada. E, uma vez por semana, gravo no estúdio para um programa da TV a cabo.
- Nossa, quanta coisa....
- É uma exploração o que eles fazem com a gente aqui. Você acredita que o meu salário é o piso de jornalista?
- Verdade?
- E se não quiser, tem fila para ficar com a vaga.
- Covardes, não?
- Nem me fale...
- E o bofe?
- Já estou cansada dele, mas liga duas vezes por semana e toda quinta-feira à noite nos encontramos.
- E o que faz nos fins de semana?
- Às vezes saio com uma colega, mas a cidade é muito chata. E você, Su?
- Na mesma. De casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Faço meus shows no fim de semana e quando meu negrão quer passo a noite com ele.
- Su, preciso te contar uma coisa.
- É? Diga.
- Acho que estou grávida. (Continua...)
Sanguessugado do DoLaDoDeLa 

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