A Wikileaks consegue o que muitos julgaram ser impossível desde a derrocada da extinta União Soviética no final dos anos 80: deixar os EUA em posição defensiva em assuntos diplomáticos. Ao vazar centenas de milhares de documentos para diversos jornais do mundo inteiro, Wikileaks constrange a política externa americana e coloca em julgamento a forma com fazem uso de seus instrumentos diplomáticos como embaixadas e consulados.
Parte dos documentos vazados mostra que diplomatas serviam de “espiões de crachá” do governo americano, fazendo relatórios sobre governantes dos países e orientando ações do governo americano para influenciar a política de alguns desses países.
Pelo que foi divulgado até agora, os documentos não possuem revelações de crimes contra a humanidade como aqueles que foram publicados na primeira leva do wikileaks, mas expõem a forma arrogante e agressiva com que a diplomacia americana conduz a política externa dos EUA e o desrespeito que nutre por líderes de outros países Algumas dessas referências a Chávez, Cristina Kirchner, Berlusconi, Medvedev, Putin e Angela Merkell foram em tom grosseiro ou de chacota.
A revelação do conteúdo dos documentos, em geral, compromete a diplomacia americana com parceiros estratégicos, mas entre tantas gafes foi possível encontrar ao menos uma avaliação digna, no episódio do golpe em Honduras. O relato foi feito pelo embaixador americano que classificou o ato como ilegal de conspiração criminosa realizada entre o congresso, o judiciário e os militares. Esse relato deveria servir de exemplo para os analistas políticos da velha mídia tupiniquim, que costumam concordar com tudo com a diplomacia americana, mas defenderam os golpistas de Honduras como se fossem seus heróis. Depois dessa, esses defensores de golpes militares com espaço farto na velha mídia deveriam pedir para ir ao banheiro e sair de fininho.
Essa semana foi de golpes duros para aqueles que defendem com unhas e dentes o alinhamento automático e lambe-botas do Brasil à política externa que os EUA tentam impor ao mundo, como era feito no tempo em que o chanceler brasileiro precisava tirar os sapatos em aeroportos americanos. Primeiro foi a premiação organizada pela revista Latin Trade chamada Bravo Business que premia líderes mundiais, e na categoria Líder de inovação do ano premiou o ministro Celso Amorim, contestado ferozmente pelos críticos da velha mídia, que não conseguem aceitar ou compreender que a política externa brasileira é soberana, e agora essa exposição humilhante da política externa que idolatram.
Política essa que atualmente se encontra sob a responsabilidade da ex-primeira-dama e atual secretária de estado Hillary Clinton, que costuma ser incensada por esses mesmos críticos, basta voltar alguns meses no tempo em que a Globo montou um painel em que Willian Waack e Maria Beltrão entrevistaram a secretária, com a participação de universitários que faziam perguntas “simpáticas” à linha editorial da emissora. Por sua vez, os entrevistadores alternavam momentos em que tentavam arrancar de Hillary declaração crítica a decisões da diplomacia brasileira, e outros de demonstração de bajulação explícita.
Wikileaks não queria, mas deixou nu, além do império, os seus vassalos no Brasil.
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