domingo, 12 de dezembro de 2010

O fim da esperança, segundo Noam Chomsky


Roberto Antonini *

Adital -Trecho da entrevista com Noam Chomsky (foto), publicada no novo número da revista MicroMega, publicada nesta terça-feira na Itália.

A reportagem é de Roberto Antonini, publicada no jornal La Repubblica, 07-12-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Eis a entrevista.

Os Estados Unidos estão hoje atravessados por uma onda de frustração e de raiva. Como se explica esse sentimento?

Durante 30 anos, a renda da maioria da população, que nunca foi muito elevada, permaneceu mais ou menos igual ou até diminuiu, enquanto as horas de trabalho aumentaram. As famílias se viram graças ao trabalho de ambos os genitores, mas os Estados Unidos não dispõem de um sistema forte de ajuda social e, portanto, não existe nenhuma ou quase nenhuma ajuda à família, e esse é um fardo pesado.

E o presidente Obama em tudo isso?

Obama chegou à Casa Branca na onda de um grandíssimo entusiasmo e na esperança de que conseguiria mudar essa situação. Pelo contrário, não fez nada mais do que piorar as coisas. Não completamente, é certo. O seu pacote de incentivos econômicos permitiu que se salvassem alguns milhões de postos de trabalho. Permitiu, é verdade, coloca um remendo no rasgão de um sistema financeiro defeituoso, mas de tal modo que os culpados do desastre são agora ainda mais ricos e poderosos do que antes. E os norte-americanos veem bem que a sua renda estagna e que as suas condições de vida pioram, enquanto uma pequeníssima faixa da população controla riquezas enormes.

O senhor não acha paradoxal, porém, que, nesse contexto de luta política, de batalha desencadeada contra Obama pelas grandes corporações, pela esquerda, particularmente muitos intelectuais de esquerda, não apoiaram o presidente?

Foi Obama mesmo que criou os pressupostos para essa situação, que deve ser analisada detalhadamente. Tomemos como exemplo a reforma do sistema de saúde, o seu grande sucesso. Quando Obama foi eleito presidente, ele disse ser favorável a um programa nacional de seguro de saúde, algo semelhante ao que existe em outros países do mundo. Uma grande maioria da população era favorável. Mas ele renunciou a ele imediatamente.

O senhor, em seu posicionamento filosófico, muitas vezes faz referência a von Humboldt, a Descartes, a alguns anárquicos, também a Adam Smith. E a sua relação com Karl Marx?

Os primeiros manuscritos de Karl Marx vêm diretamente dessa tradição, do Iluminismo romântico, de fato quase textualmente. É daí que provém o conceito de alienação. Nos escritos posteriores, Marx fez uma análise crítica muito forte dos elementos constitutivos fundamentais do sistema capitalista e das mudanças históricas. Há muito a aprender. O fato de que se possa aplicar o marxismo à sociedade contemporânea é discutível, mas seguramente a contribuição intelectual de Marx é de grande importância. Não me definiria como marxista, nem cartesiano, nem outra coisa. Não devemos venerar os indivíduos, mas sim interessar-nos pelas ideias.

* Jornal La Reppublica

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