Depois de preparar a visita da presidenta Dilma Rousseff à Argentina, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, viaja na próxima segunda-feira ao Paraguai. Ele tem várias reuniões marcadas para agendar a primeira visita de Dilma a Assunção. Nas conversas, dois assuntos devem ter destaque: o processo de regularização dos chamados “brasiguaios” – agricultores de origem brasileira que vivem na fronteira – e a revisão de tarifas da Hidrelétrica de Itaipu.
Inicialmente, assessores preparam a viagem de Dilma ao Paraguai para a primeira quinzena de março, antes da viagem da presidenta aos Estados Unidos. Em Assunção, Patriota terá reuniões com o presidente Fernando Lugo, o ministro das Relações Exteriores, Héctor Lacognata, e vários ministros. Desde julho do ano passado, os governos do Brasil e do Paraguai avançaram no processo de regularização de documentos dos cerca de 90 mil “brasiguaios”. De acordo com autoridades, muitos deles não tinham documentação. Em 2010, aproximadamente 8 mil “brasiguaios” regularizaram a situação.
Os agricultores brasileiros se queixam ainda de preconceito e tratamento diferenciado por parte das autoridades paraguaias. O assunto também será objeto de discussão. Paralelamente, outra preocupação dos paraguaios é com a revisão do Tratado de Itaipu. O acordo ainda está no Congresso à espera de votação dos parlamentares. Pelo tratado, o valor pago anualmente ao Paraguai pela energia não usada da Itaipu Binacional passará de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões. Atualmente, o Brasil paga US$ 43,8 dólares pelo megawatt-hora da usina, somados a US$ 3,17 pela cessão da energia que o Paraguai não utiliza. O valor da taxa de cessão será de US$ 9,51 tão logo o acordo seja aprovado pelos dois parlamentos.
O comércio entre o Brasil e o Paraguai atingiu US$ 3,16 bilhões em 2010, o que representa aumento de 39% com relação a 2009. Segundo estimativas, a economia do Paraguai cresceu 8,9% no ano passado, o maior índice de crescimento da América do Sul.
Uruguai adiado
A presidenta Dilma Rousseff deve adiar a visita ao Uruguai, prevista para o próximo dia 1º de fevereiro, e remarcá-la para outra data na primeira quinzena do mês. A decisão foi tomada porque a presidenta quer ter mais tempo para se dedicar aos temas bilaterais, segundo assessores. Com a agenda como está, Dilma teria dificuldades. A presidenta vai manter apenas a viagem à Argentina já marcada para o dia 31, quando ela inaugura a agenda internacional.
Ao passar por Montevidéu (capital do Uruguai), a ideia da presidenta é focar as conversas com o presidente do país, José Pepe Mujica, e os ministros uruguaios e brasileiros na ampliação de parcerias nas áreas econômica e tecnológica. Pelo menos sete propostas de ratificação de acordos são preparadas para a primeira visita de Dilma ao Uruguai.
Em fase de elaboração há estudos sobre o porto de águas profundas em La Paloma, a construção do centro de feiras e convenções em Montevidéu, a Hidrovia da Lagoa Mirim e portos fluviais. Também está prevista uma reunião sobre as pontes sobre o Rio Jaguarão, que liga os municípios de Jaguarão e Rio, assim como a recuperação da Ponte Barão de Mauá – por onde passam os turistas que tentam ir de um país ao outro.
Dilma e Mujica conversaram demoradamente no último dia 1º, depois da posse da presidenta. A trajetória política dos dois presidentes têm vários pontos comuns, pois ambos combateram os regimes militares, integrando grupos de jovens contrários à ditadura. Porém, na conversa em Brasília, predominaram os temas sobre tecnologia.
O presidente do Uruguai conversou sobre o processo de aquisição de tecnologia de TV digital com base no sistema adotado no Brasil, a interconexão elétrica e ferroviária e a mineração. Mujica tem defendido que os especialistas uruguaios se mantenham no país e não migrem – tendência que se tornou frequente nos últimos anos. O objetivo de Mujica é fechar parcerias com o Brasil para compartilhar os profissionais do Uruguai com a base industrial brasileira.
Maior integração
Mujica, em recente conversa com jornalistas, disse esperar que a política de aproximação com países da América Latina, intensificada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seja seguida por Dilma.
– Espero que o traço fundamental da política de Lula se mantenha e se multiplique. Espero que o Brasil entenda que tem o papel de liderança na América Latina. Os latino-americanos têm que andar muito mais juntos do que têm andando até agora, com maior unidade – afirmou.
Dilma e Mujica conversaram longamente, no início deste mês, quando ele e a mulher, a senadora Lucía Topolansky, compareceram à posse de Dilma. O casal tem um ponto comum com a presidenta Dilma: um passado de luta armada contra a ditadura militar. Mujica considerou a eleição de Dilma um avanço para a democracia brasileira.
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