"Amem a Dilma como vocês me amaram", pede Lula
Foto: Agência Estado
Lula em São Bernardo, na festa organizada pelo PT da cidade
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Contrariando a versão que circulava há alguns dias no governo e no PT de que manteria o silêncio na despedida do cargo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na última festa de que participou, antes de se recolher e encerrar definitivamente os oito anos que passou no comando do Executivo brasileiro. Embora aliados tenham dito nos últimos dias que Lula evitaria roubar a cena de Dilma Rousseff, ele cedeu aos pedidos da plateia formada por cerca de 2.000 pessoas que o aguardavam na frente de sua casa, em São Bernardo do Campo, na noite deste sábado.
Lula, que pela primeira vez chegou em casa já como ex-presidente, afirmou, em discurso de 11minutos feito de improviso – marca de sua gestão – que foi vítima do preconceito e fez um apelo aos militantes para que apoiem, a partir de agora, a sua sucessora. "Quero pedir para que vocês amem a Dilma como vocês me amaram no governo. Para que vocês gostem dela como vocês gostaram de mim. Porque o Brasil não pode parar", disse.
“Peço para vocês que com o mesmo carinho que vocês me apoiaram, a gente tem que apoiar a companheira Dilma. Os adversários são os mesmos, os preconceitos são maiores e muito mais. E a gente vai ter que estar do lado dela, enfrentando os nossos adversários para que a gente possa provar que a mulher tem competência e vai governar com muita qualidade”, completou.
Lula, que termina o mandato com aprovação recorde, disse no discurso que voltava para casa “de cabeça erguida e com a sensação de dever cumprido”. “Eu precisava provar algumas coisas neste País, porque durante muitas décadas fui vítima de muito preconceito", discursou o ex-presidente, que veio de Brasília no fim da tarde e fez uma parada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para visitar o ex-vice José Alencar.
Ele agradeceu aos companheiros de militância e fez questão de tecer elogios ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que o acompanhou na viagem ao ABC paulista, onde Lula volta a viver a partir de hoje com a ex-primeira-dama Marisa Letícia. "Quero agradecer ao companheiro Sarney que quatro anos atrás me disse que, quando terminasse meu mandato, ia vir até a porta do meu apartamento me entregar e veio", disse Lula.
Em seu discurso, Sarney disse ter estabelecido com o petista um caminho de “amizade e reconhecimento”. Ele elogiou a “generosidade” do aliado e disse que até então jamais um presidente foi “prestigiado” daquela forma por um antecessor. “Antes só se via ex-presidente falando mal de ex-presidente. Mas hoje vim aqui falar bem e abraçá-lo”, brincou o peemedebista.
Emoção
Apesar de ter se estendido na fala, Lula começou o discurso dizendo que preferia não falar muito, para não correr o risco de chorar. "Eu não estou sequer em condições de falar, porque esta semana e a semana passada foram semanas sofridas, de muita choradeira, muita emoção e muitas lágrimas", disse o petista, que, demonstrando cansaço, teve de interromper o discurso para pedir um copo de água.
Anfitrião da festa, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), entregou ao ex-presidente a chave da cidade. A primeira atração em homenagem ao ex-presidente foi comandada por uma orquestra de violeiros que tocou "Como é grande o meu amor por você", de Roberto Carlos.
No palco estava também o cantor Sérgio Reis, que levou como presente para o ex-presidente, que é fã do cantor, um DVD com músicas gravadas com Renato Teixeira.
Entre as favoritas de Lula, segundo o cantor, estavam no “Setlist” canções como “Tocando em frente” e “O menino da porteira". Ao longo da festa, Lula também ouviu jingles de campanhas passadas – o famoso “Lula lá”, de 1989 – e desceu do palco ao som de “Tema da Vitória”, tocada quando Ayrton Senna vencia corridas de Fórmula 1.
A festa foi organizada pelo PT de São Bernardo, em frente ao prédio onde fica o apartamento de Lula e Marisa. De acordo com a Guarda Civil Metropolitana, cerca de 2 mil pessoas estavam no local por volta das 22 horas, esperando sob garoa a chegada do ex-presidente. A impressão, entretanto, era de um público mais escasso, de pouco mais de mil pessoas.
Lula chegou ao local às 22h42 com os seguranças que o acompanharam na Presidência. Trajava uma camisa jeans azul e fez questão de caminhar entre a multidão em direção ao palco improvisado para a homenagem.
Ainda em seu discurso, Lula disse que pretende, a partir de agora, descansar durante cerca de 20 dias para “colocar a cabeça no lugar” e afirmou: “o fato de eu ter deixado a Presidência da República não significa que deixei a política”. Lula disse ainda que ainda tem “muita coisa para fazer pelo País”.
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