São absolutamente normais as expectativas criadas com o início do governo Dilma. Parte da equipe do governo Lula foi mantida, mas as dúvidas normalmente aparecem em ministérios onde foram nomeados novos responsáveis, principalmente quanto o titular não tem atuação política conhecida.
Ter dúvidas frente ao desconhecido é louvável, exercitar a crítica política é fundamental, sobretudo para quem ajudou a eleger Dilma Presidenta, mas tentar derrubar ministros que ainda não tiveram tempo de apresentar um trabalho, principalmente quando as críticas se baseiam em suposições e especulações é jogar a favor dos adversários políticos do governo.
Eu parto do seguinte princípio: quem elege e demite é o presidente da república, e se Dilma confiou naquelas pessoas a ponto de lhes entregar um ministério, isso já é suficiente para eu dar um voto de confiança ao ministro ou ministra até que ele ou ela possa desenvolver seu trabalho. Quem confia nos seus próprios argumentos pode convencer as pessoas de que eles estão corretos, sem precisar derrubar ninguém.
Além disso, a presidente Dilma, em todas as declarações que deu desde o pós-eleições até agora, reafirmou que não vai fazer rupturas com as diretrizes do governo Lula, essa é a palavra dela e que até agora, EM FATOS, cumpriu. Se a presidenta não permite grandes rupturas, fica reduzida a possibilidade de um de seus comandados promover mudanças que vão de encontro às políticas tocadas até agora, isso parece óbvio.
As especulações sobre política externa
Assim como no Ministério da Cultura, o Itamaraty também vem sendo alvo de muita especulação sobre possíveis mudanças que o novo chanceler, Antonio Patriota, estaria implementando. A diferença é que no caso do Minc, a artilharia pesada vem de blogueiros e ativistas ligados ao movimento pela cultura digital livre, e no caso do Itamaraty, o fogo vem da imprensa partidária. Em ambos os casos, o off é usado para alimentar a polêmica.
Antonio Patriota é ligado ao ex-chanceler Celso Amorim, e teve sua escolha aplaudida e comemorada pelo antecessor. Em diversas ocasiões, o assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, sinalizou que a política externa não seria modificada. Essas informações são confirmáveis, não são fruto da inconfidência ou plantação, os interlocutores têm nome, não estão escondidos sob o manto do anonimato como os personagens sem nome das especulações.
Não estou aqui querendo acabar com o off, um instrumento válido do jornalismo, principalmente em situações nas quais o anonimato pode salvar a vida ou garantir a segurança do informante, mas apenas pedindo para ser usado com parcimônia evitando a banalização e o incentivo a ser usado como instrumento de revanchismo de pessoas ou grupos desprestigiados. Jornalistas brasileiros conseguiram desmoralizar esse tipo de matéria com tantas denúncias veiculadas dessa forma que depois foram desmascaradas. Hoje, é preciso confiar muito na fonte para admitir usar informação desse tipo, pois, na maioria das vezes, é um insatisfeito querendo plantar uma informação falsa para tumultuar, quando não é o próprio jornalista que usa o método para inventar mentiras e parecer bem informado.
Com que informação você fica: com o histórico de Patriota e declarações do Marco Aurélio Garcia ou com os offs da imprensa? Os fatos até aqui apontam para a continuidade, e o posicionamento do Itamaraty frente aos episódios das manifestações populares contra ditaduras de países como Tunísia e Egito seguiu o protocolo de não-ingerência (exceto contra golpes de estado) dos últimos oito anos.
Acredito que a área de comunicação do governo está bem servida com a Helena Chagas, mas entendo que é preciso agir para debelar boataria e especulações nas pastas, assim que elas são criadas. Até porque quem perde mais com elas não são os donos de jornais e sim os contribuintes.
Fonte da imagem: Jornal A Tribuna
Nenhum comentário:
Postar um comentário