Pesquisa iniciada por Alcides do Nascimento é concluída após dois anos de estudos
Elisa Jacques* Especial para o NE10
O estudante de biomedicina da UFPE foi morto em fevereiro de 2010 (Foto: Divulgação / Edição: NE10) |
Cansaço e respiração forçada são os principais sintomas de quem apresenta a deficiência de G6PD (Glicose-6-Fosfato-Desidrogenase), enzima que protege as células vermelhas do sangue contra o estresse celular. Quem tem a enzima consegue vencer o estresse tranquilamente, já os doentes (aqueles que não possuem), acabam não desenvolvendo a reação de defesa, capaz de impedir a produção de radicais livres destruidores das células. Em Pernambuco, 5% são portadores dessa doença.
Isso é o que diz a pesquisa “Investigação Molecular da Deficiência de G6PD em doadores de sangue do Estado de Pernambuco”, do médico hematologista e coordenador de grupos de pesquisa sobre doenças do sangue da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope), Anderson Araújo.
O estudo, iniciado em 2009, contou com a participação do estudante de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Alcides do Nascimento Lins, assassinado em fevereiro de 2010. Mesmo com a fatalidade, já em abril daquele mesmo ano, foi dado continuidade ao projeto. Outro participante, Fernando Baltar, também vinculado ao curso de biomedicina da UFPE, assumiu o lugar de Alcides.
“Acredito que ele [Alcides] tenha feito o mais difícil: formulou as padronizações para iniciar a pesquisa, coletou as amostras, criou e deixou as planilhas organizadas, além disso, foi ele quem escreveu o próprio projeto da pesquisa”, afirmou Fernando.
A apresentação oficial dos dados do estudo ocorrerá apenas em julho, mas o grupo de pesquisa que também envolve os pesquisadores Marcos André Bezerra e Betânia Lucena, alerta que a maioria dos portadores não identifica a doença, por ela ser silenciosa e não prejudicar as práticas cotidianas. “O mais incrível é que eu tenho certeza que, de todos os doadores de sangue positivos para a doença, nenhum fazia idéia da presença dela”, afirmou Fernando.
Pesquisadores deram continuidade ao projeto: Fernando Baltar (D) foi quem substituiu Alcides (Foto: Elisa Jaques/Especial para o NE10) |
De tão silenciosa que é, a deficiência de G6PD acaba passando despercebida por quem a possui. “Eu só descobri que tinha a doença há duas semanas, por causa das aulas práticas da faculdade em que foram coletadas amostras de sangue dos alunos para testes”, declara a estudante universitária Priscila Aragão.
No entanto, o paciente com G6PD não sofre riscos, mas em casos de mutações graves, precisa de transfusão sanguínea. É o que já apontava uma pesquisa desenvolvida há mais de 10 anos em São Paulo pela Unicamp. “A pessoa consegue viver normalmente, mas quando entra em contato com alimentos como a fava e medicamentos como analgésicos e antiinflamatórios, eles tem uma crise anêmica. A mortalidade é praticamente zero, é só saber viver com a doença, levando em conta suas limitações”, completou Fernando.
* Participante do curso de Divulgação Científica da UFPE
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