Em audiência realizada nesta quarta-feira (22) no Senado para discutir a violência no campo e reforma agrária, o representante da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) William Clementino da Silva Matias afirmou que há listas de marcados para morrer em todos os Estados brasileiros.
“Temos listas de marcados para morrer em todo lugar, e fazer lista desse tipo parece não ser crime. Se nossa reação fosse igual, de fazer lista dos quem fazem as listas, já estaríamos condenados. Que Estado é esse que dá enorme proteção a uns e nenhuma a outros?”, questionou. A audiência foi convocada após ocorrerem pelo menos seis mortes de camponeses nos últimos 30 dias.
Na mesma audiência, o procurador da República José Elaeres Marques Teixeira lembrou o massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, ocorrido há 15 anos, como exemplo da impunidade no campo. Até hoje somente dois policiais envolvidos foram condenados pela Justiça, mas ambos aguardam em liberdade o fim do processo. “Ainda não houve punição para esse grave crime”, afirmou.
Parlamentares, lideranças de movimentos sociais, procuradores e militantes ligados à Igreja Católica estiveram na audiência. Além da impunidade, os convidados associaram a violência no campo às deficiências dos programas de reforma agrária, que não dariam assistência devida aos assentados. “Vem o madeireiro, o assentado cede à tentação e vende a madeira. Aquele que resiste a isso acaba sendo morto”, disse o procurador.
Augusto Aragon, diretor da Força Nacional de Segurança (FNS), afirmou que as mortes no campo estão quase sempre associados ao que chamou de "cinturão de desmatamento", áreas de ocupação recente e de expansão de atividades econômicas. Após os crimes recentes, a Força Nacional foi enviada às regiões de maior conflito na região Norte. Segundo Aragon, no Pará, os organismos de segurança carecem de estrutura e pessoal.
Para o coordernador-geral de Polícia Fazendária do Departamento de Polícia Federal, Claudio Gomes, os crimes ambientais e o desrespeito aos direitos humanos são também decorrentes da conivência de servidores públicos. Ele deu como exemplo o fato de que há casos de legalização de madeira retirada de forma irregular na Amazônia. “Não adianta só repressão. É preciso fiscalização do poder público”.
Onda de mortes
Seis camponeses foram mortos desde o final de maio na região Norte, cinco deles no sudeste paraense. A última vítima foi Obede Loyla Souza, 31, morto no último dia 9 no acampamento Esperança, em Pacajá (PA). Antes, Marcos Gomes da Silva, 33, natural do Maranhão, foi assassinado em Eldorado dos Carajás no dia 1º. As investigações apontaram que a morte não foi motivada por questões agrárias. Silva era foragido da Justiça e usava uma identidade falsa.
Três mortes ocorreram em Nova Ipixuna, também no sudeste paraense: o casal de castanheiros José Cláudio Ribeiro da Silva, 52, e Maria do Espírito Santo da Silva, 50, ativistas que denunciavam a ação ilegal de madeireiros, foi executado no último dia 24; cinco dias depois, foi encontrado o corpo de Eremilton Pereira dos Santos, 25, que morava no mesmo assentamento do casal.
No dia 27, a vítima foi Adelino Ramos, o Dinho, liderança do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), assassinado enquanto vendia verduras em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO). Dinho foi um dos sobreviventes do massacre de Corumbiara - ocorrido em agosto de 1995, no qual pelo menos 12 pessoas morreram nas mãos de pistoleiros e PMs - e também denunciava a atuação de madeireiros.
*Com informações da Agência Senado
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