quinta-feira, 28 de julho de 2011

Carta ao ministro deslocado

Senhor Ministro Nelson Jobim,

Suas credenciais dispensam apresentação. Como se não bastassem os elementos engedrados por sua trajetória, sua relação fraternal com o tucanato, sua amizade com José Serra (o homem que abriu a caixa de Pandora do preconceito no Brasil contemporâneo, o candidato da bolinha fake de papel) tivemos o (des)prazer de tomar conhecimento do papel de agente duplo do senhor, através das revelações do Wikileaks (para quem não se lembra, clique aqui).
 

De um sujeito com esse currículo, leniente com a privataria e a destruição da economia interna do país, lacaio de interesses externos, não poderíamos esperar outra coisa: o senhor foi eleitor de José Serra, declarado, como mostra essa entrevista. Acho até coerente.

Nada que venha do senhor me incomoda. Mas confesso que não poderia ficar calado mediante suas declarações a respeito do papel da Comissão da Verdade, que pretende investigar e trazer à luz, fatos históricos relacionados ao grande rol de desrespeitos aos direitos humanos nesse país.

O senhor disse que a comissão deveria investigar os grupos de guerrilha, usando de uma estratégia muito comum entre os conservadores brasileiros para esconder os crimes do regime militar.

Caro ministro, esses grupos de guerrilha optaram pela luta armada diante de um regime ditatorial, criminoso e violento, em um momento em que as instituições atuavam com um único objetivo: massacrar aqueles que defendiam a democracia. Se uma sociedade nega a seus cidadãos o direito de contestação, livre organização e expressão, o que resta a essa sociedade? Rebelar-se, caro ministro. 

É sabido, por qualquer brasileiro e brasileira com um mínimo de conhecimento sobre nossa história, que esses grupos na sua maioria foram destruídos pelas forças de segurança pública, através do métodos mais condenáveis, tratando-se da atuação do estado: espionagem, tortura, assassinatos. 

Ora, ministro, o que esperamos da Comissão da Verdade é que ela repare os danos causados pelo estado brasileiro, seus agentes diretos e indiretos, que usurparam os mais básicos direitos de nossa nação. Tergiversar, tentando colocar água no chope da Comissão, trazendo as guerrilhas para o debate, é uma forma clara de tentar livrar do julgamento político e histórico os verdadeiros culpados: aqueles que, portando os poderes de um estado nacional, não poderiam de forma alguma valer-se do crime como estratégia de governo. 

Eu desconfio de todo cidadão ou cidadã que assim como Ulisses Guimarães não tem "ódio e nojo" da ditadura. 

Sim, ministro, eu sou rancoroso, não esqueço, não pretendo de forma alguma esquecer esse capítulo da História do Brasil. Esquecer é o primeiro passo para relativizá-lo, e por sua vez, relativizá-lo, é o segundo passo para abrir espaço para que aconteça novamente. 

Ministro, suas posições políticas tornam o povo brasileiro vulnerável. Agridem a história e a memória do país. 

Espero vê-lo, o mais cedo possível, pelas costas. 

Sem mais, e até nunca mais.

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