sábado, 3 de setembro de 2011

Documentos revelam ligação entre CIA e Kadafi

Norte-americanos enviaram prisioneiros para serem interrogados e britânicos fizeram discurso para ex-líder ler sobre armas


Os serviços de inteligência americanos e britânicos cooperaram estreitamente com os do coronel Muamar Kadafi, e a CIA chegou inclusive a entregar prisioneiros para que fossem interrogados, afirmaram diversos jornais neste sábado.

Os jornais britânico The Independent e norte-americanos Wall Street Journal e New York Times tiveram acesso a arquivos encontrados em um edifício dos serviços secretos líbios em Trípoli pela organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW).

Durante o governo do ex-presidente George W. Bush, a CIA entregou supostos terroristas ao regime de Kadafi, aconselhando as perguntas que os líbios deveriam fazer a eles, escreve o Wall Street Journal, citando documentos encontrados na sede da agência de segurança exterior líbia.

Em 2004, a CIA tinha inclusive uma "presença permanente" na Líbia, segundo uma nota de um funcionário de alto escalão da agência de inteligência americana, Stephen Kappes, enviada ao chefe dos serviços secretos líbios na época, Mussa Kussa. A nota começa com um "Querido Mussa" e está assinada com o nome "Steve", o que permite deduzir as estreitas relações mantidas pelos dois serviços, afirma o Wall Street Journal.

Outros documentos revelam que EUA e Reino Unido atuaram em nome da Líbia nas negociações deste país com a Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA). Há detalhes da visita a Trípoli do então primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, cujo escritório solicitou que a entrevista com Kadafi acontecesse em uma tenda de campanha.

De acordo com o New York Times, em pelo menos oito ocasiões a CIA enviou prisioneiros suspeitos de terrorismo à Líbia. A mesma fonte indica que, em troca, os líbios solicitaram à CIA que localizasse Abu Abdullah Al Sadiq, um líder opositor.

Em março de 2004, a CIA respondeu que estava tentando localizá-lo, segundo documentos que figuram no arquivo sobre a agência americana encontrado em Trípoli. Um funcionário americano citado pelo jornal lembra que nesta época a Líbia tentava romper seu isolamento diplomático com o Ocidente. De acordo com as notas encontradas em Trípoli, os serviços secretos britânicos também ajudaram a redigir o discurso em que Kadafi anunciava renunciar às armas de destruição em massa.

O ministro britânico de Relações Exteriores, William Hague, não quis comentar neste sábado informações "que remontam à época de um governo anterior" (o de Tony Blair). Não posso fazer nenhum comentário sobre o assunto dos serviços secretos", indicou à Sky News. Por sua vez, o departamento de Estado americano, contactado pela AFP em Washington, negou-se a comentar estas informações.

Mussa Kussa, chefe dos serviços secretos líbios de 1994 a 2009 e depois ministro das Relações Exteriores, fugiu para Londres no dia 30 de março, onde permaneceu por alguns dias antes de viajar para o Qatar.

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