terça-feira, 4 de outubro de 2011

Aluna da USP: “Escrevi ditadura e massacre; placa me agrediu muito”

por Conceição Lemes

Nessa segunda-feira, 3, o Viomundo denunciou: A USP homenageia as vítimas da “Revolução de 1964″?

Na placa do monumento  às vítimas da ditadura na USP, que está em construção na Praça do Relógio, ao lado do bloco A do CRUSP, estava escrito: “Monumento em Homenagem a Mortos e Cassados na Revolução de 1964”


A ministra Maria do Rosário, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, indignada, detonou no twitter:  Essa placa na USP é um absurdo.

Em seguida, a sua assessoria de imprensa nos enviou e-mail a sua posição:  Farei contato com o reitor para mudar imediatamente a inscrição na placa“.

A Petrobras, também por e-mail, nos informou que o nome do projeto que patrocina é outro

A reportagem foi postada às 16h40. Nas horas seguintes a placa foi pichada.


“Quando eu passei por lá à noite, já estava escrito golpe”, conta Alana Marquesini, 23 anos, estudante de Ciências Políticas da USP. “Aí, escrevi ‘ditadura!’. Voltei hoje  e acrescentei ‘massacre’.”


“Escrevi porque  me agrediu muito como cidadã, brasileira, estudante de Ciências Políticas”, prossegue Alana, que viu a placa pela primeira vez na terça-feira da semana passada. “Fiquei indignada e fui levando outras amigas. Só quando as pessoas viam é que se davam conta do absurdo. Um erro crasso. ”


Alana mora perto da USP com mais duas amigas, uma delas é a blogueira e cyberativista Alexandra Peixoto, do Boca no Trombone.


“Agora resta saber quem teve a iniciativa provocadora de mandar confeccionar uma placa dessas”,  protesta Alexandra. “É um verdadeiro insulto a todos os estudantes e professores que foram perseguidos e mortos durante os anos de chumbo. Já não basta a militarização ostensiva que a USP sofre atualmente, mais essa agora. É de lascar…”


Alana fez a segunda pichação por volta das 11h de hoje. Voltou lá em torno das 13h. A placa tinha sido retirada. Estava jogada no chão. A retirada  foi feita pela Scopus Construtora e Incorporadora por uma solicitação da USP hoje cedo.  A Scopus tem muitas obras na USP e o seu dono é quem assina como engenheiro responsável pela obra do monumento.


REITORIA DA USP: “HOUVE UM ERRO NA INSCRIÇÃO DA PLACA”


Agora à tarde, Adriana Cruz, assessora de imprensa da Reitoria da USP, nos enviou por e-mail, o seguinte esclarecimento:


“Houve um erro na inscrição da placa. O nome correto é: Monumento em Homenagem aos Mortos e Cassados no Regime Militar. Trata-se de um projeto do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP. A correção da placa será feita o mais breve possível.


Por favor, peço a gentileza de que inclua este esclarecimento em sua matéria, pois o NEV é um grupo de pesquisa reconhido nacional e internacionalmente e não pode ser exposto dessa forma por um erro na placa da obra.


Também gostaria de acrescentar que não há nenhum tipo de ligação entre esse Monumento e o fato de a Congregação da Faculdade de Direito ter deliberado o reitor como persona non grata da Unidade. Desculpe-me, mas foi uma associação bastante infeliz”.


Como ficaram  várias dúvidas, solicitei à Assessoria de Imprensa da Reitoria da USP que as esclarecesse para o Viomundo:


  1. Pela placa a obra começou em 16 de agosto. Por que decorridos quase 50 dias ninguém da reitoria ou da coordenadoria do espaço físico havia percebido o erro?
  2. Quem foi o responsável pela feitura da placa?
  3. Como foi contratado o projeto? E a sua execução?
  4. Na placa são citadas Petrobras, Scopus, Dezoito Arquitetura e Coordenadoria do Espaço Físico (Coesf). A Petrobras vai financiar o projeto, qual o papel dos demais?
  5. Normalmente obras desse porte em órgãos públicos exigem licitação. Será que nessa foi preciso? Que tipo de contrato foi feito? Se foi feita licitação, qual o número?
  6. Qual a viagem dos 89 milhões de reais? A Petrobras passou para a FUSP que repassou para quem?
  7. Como é efetuado o pagamento? Mensal? No final da obra?
  8. O memorial vai ficar pronto na data prevista?


A assessoria de imprensa respondeu  parcialmente essas questões, comprometendo-se a buscar as informações que faltavam. Porém, não houve retorno até a hora da postagem desta reportagem. Todas elas serão publicadas em outro texto.


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