Por Altamiro Borges
O portal IG publicou ontem entrevista exclusiva com Roberto Freire, presidente nacional do PPS. Sem abordar a grave crise da sua legenda, que já perdeu quatro deputados federais e vários prefeitos para o recém-criado PSD de Kassab, o ex-senador finge otimismo e afirma que “está aberto à candidatura de Marina Silva em 2014 e até à filiação de José Serra”. Leia alguns trechos da divertida entrevista:
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O PPS anda filiando muitos aliados da candidata do PV à Presidência da República em 2010, Marina Silva. Isso não é meio incomum?
(...) Desde que a Marina Silva saiu do PV, seu grupo partiu para a criação de um movimento apartidário. Mas, para concorrer às próximas eleições eles precisam estar filiados a alguma legenda. Tivemos um bom convívio desde que o PPS e o PV estiveram juntos num mesmo bloco parlamentar na Câmara e temos várias posições em comum. Não há conflitos.
Então conversamos no sentido de abrir o PPS, que é um partido democrático, para que os marineiros possam se candidatar pela legenda, onde quiserem, no Brasil inteiro. Depois, tanto eles como nós decidiremos o que fazer. Podemos inclusive ficar definitivamente juntos.
Está dando certo?
Creio que sim. Em São Paulo, por exemplo, o apoio dos marineiros tende a fortalecer bastante nossa candidata à Prefeitura, a Soninha. E o Ricardo Young, que foi candidato ao Senado pelo PV, deve obter uma grande votação para vereador.
E quanto à candidatura presidencial da Marina Silva pelo PPS? Ela é hipótese do partido?
É uma decisão da Marina se ela quer ou não se filiar ao partido. Creio que antes ela vai trabalhar o movimento que criou ao sair do PV. Mas nós estamos de braços abertos à sua filiação. O apoio à candidatura de Marina Silva à Presidência já é admitido mesmo ela estando fora da legenda. É claro que com os marineiros aqui esse diálogo aumenta e, se houver a filiação, a hipótese se torna ainda mais forte.
Mas e o José Serra? Ele foi candidato a presidente em 2010 com forte apoio do PPS e do senhor. Vocês o estão abandonando?
De forma alguma. O problema é o PSDB, que está tratando o Serra muito mal, assim como a seus filiados mais à esquerda. Já estamos, inclusive, conversando com alguns serristas.
Vai ter filiação de serristas ao PPS também?
Olha, é bem possível. Mas eu prefiro deixar esse assunto para quando estiver resolvido. Aí faremos um anúncio público.
E o Serra?
Pois é, se o PSDB continuar tratando-o tão mal, nada impede que ele também venha para o PPS. Estaremos de braços abertos.
Tratando mal? Como?
Ora, desde que acabaram as eleições de 2010. Vide o episódio da Convenção Nacional do partido. Colocaram o Serra num cargo decorativo, de presidente do Conselho Político.
O senhor acha que o PSDB já optou pela candidatura de Aécio Neves à Presidência, em 2014.
Acho. Não quero me meter nas questões internas de outro partido. Mas acho até que eles estão querendo fechar a discussão, impedir que outras candidaturas, como a do Serra, se coloquem. Neste caso, começam a empurrar as pessoas para fora da legenda.
Pode ser o caso do Serra?
Pode. Não para agora, naturalmente, porque esse é um assunto para as eleições de 2014. Mas outros nomes podem vir agora e o próprio Serra, mas adiante, seria muito bem-vindo. Trata-se de uma figura de grande expressão política no país e por quem o PPS tem o maior carinho. Estaremos, naturalmente, de braços abertos.
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Fim de carreira deprimente
Roberto Freire sempre foi um tucano infiltrado no PPS – para desgosto dos militantes do velho partidão que apostaram nesta sigla como alternativa eleitoral de esquerda. No reinado de FHC, ele defendeu todas suas políticas neoliberais. Já no governo Lula, ele pregou o seu impeachment. Nas três últimas eleições, Freire integrou os comandos de campanha de Serra, Alckmin e Serra, novamente.
Nesta entrevista ao IG, Roberto Freire apenas confirma que vários verdes também são tucanos enrustidos – o que já era evidente na campanha eleitoral de 2010 – e que a crise no PSDB é mais grave do que alguns imaginam. Serrista, mais do que tucano, Freire sente as dores do seu amigo – “tratado mal” pelo seu partido. E cede abrigo na “sua” legenda.
O problema é que o PPS afunda no seu pragmatismo eleitoral. Está quase morto! Serra aceitará o convite? Abandonará o PSDB para ingressar no partido de Freire? Seria um deprimente fim de carreira!
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