As ações do “MerdTV” contra a Rede Globo durante as transmissões ao vivo da emissora despertaram polêmica depois que dois integrantes do grupo derrubaram a repórter Monalisa Perrone, na última segunda-feira (31 de outubro), no momento em que ela conversava com os apresentadores do “Jornal Hoje”. O debate vai além do julgamento sobre a elegância da atitude dos manifestantes; passa também pela liberdade de imprensa, agressão aos jornalistas e o papel dos meios de comunicação.
E não só a TV Globo foi alvo de manifestações em outubro. No dia 28, aproximadamente 50 pessoas dos movimentos “Anonymous” e “Ocupa Sampa” entraram no prédio da Editora Abril para protestar contra a revista “Veja”, que estampou na capa da edição do dia 22 a máscara símbolo do “Anonymous” para ilustrar uma reportagem sobre o combate à corrupção. Eles alegaram que não querem ver a imagem do grupo atrelada à revista.
Falta de alternativa
Para o sociólogo e jornalista Lalo Leal Filho, essas manifestações são uma atitude desesperada diante da falta de alternativas. “É a consequência da arrogância e da insensibilidade daqueles que controlam alguns dos grandes veículos de comunicação. Se todos os canais de diálogo democrático estão fechados, acaba só restando a ação direta. Tudo isso é um sintoma da insatisfação da sociedade com a situação atual”, diz Lalo Filho.
“O Brasil necessita, com urgência, de uma lei para o setor que garanta o direito de resposta, acabe com a concentração dos meios, amplie a participação da sociedade na produção e difusão de ideias e informações, regule a publicidade voltada para crianças e adolescentes, entre outras medidas. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi feliz ao dizer que em seu país a Lei de Meios de Comunicação não foi criada ‘para controlar ninguém, mas para impedir que o povo seja controlado’. É disso que precisamos”, avalia Lalo Filho, que também é fundador da ONG Tver, voltada para o acompanhamento da qualidade da televisão brasileira.
Atitude desabonadora
Já o jornalista e ex-presidente da Radiobrás Eugênio Bucci afirma não fazer uma conexão entre o gesto contra a jornalista Monalisa e qualquer manifestação crítica sobre a televisão. “Eu vi aquilo e achei inteiramente descabível, chega a ser uma agressão contra a liberdade de expressão”, comenta Bucci, diretor do curso de jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP).
“Televisão é um assunto sobre o qual pesquiso. Conheço inúmeras correntes que apontam problemas do discurso da televisão, mas a interferência física contra outra pessoa é uma das coisas mais desabonadoras. Eles [integrantes da MerdTV] têm todo o direito de se expressar, mas o que eu enxerguei ali [caso da repórter Monalisa Perrone] foi uma agressão física. Não entendi se existe algum pensamento naquilo e continuo sem entender”, finaliza Bucci.
Processos e notas de repúdio
A direção da TV Globo deve processar os invasores da transmissão de Perrone. O primeiro passo foi dado no mesmo dia, com o registro de boletim de ocorrência policial.
A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) disse, em nota, que está estarrecida com o que chamou de "ato de vandalismo", enquanto a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) afirmou que a tentativa de intimidar jornalistas deve ser sempre rechaçada.
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