Como alavancar a audiência de um programa que já estava condenado ao
fracasso por ter esgotado suas possibilidades? Só nudez, romance e
intrigas entre anônimos sarados, não dão mais conta das expectativas do
público. Por isso, a produção do BBB passou a regar a “casa mais vigiada
do Brasil” com bebidas alcoólicas. É como aquele velho truque machista
de embebedar a mocinha para facilitar o assédio sexual. Neste caso, a
estratégia foi desinibir os participantes induzindo-os a deixarem de
lado princípios morais e partirem para a sacanagem – que é o que
interessa. Bonitos, sarados, alcoolizados e obrigados a dividir as camas
com os colegas do sexo oposto – tudo isso somado – trouxe à tona mais
do que a encomenda: a polêmica do estupro praticamente explícito.
Mas, cá entre nós: não fosse a boataria que se espalhou rapidamente
pelas redes sociais, talvez passasse batido. Afinal, sabemos que é
preciso ser um completo idiota para assinar o pay-per-view deste
programa e passar 24 horas diárias “vigiando os brothers”. E,
certamente, quem se dispõe e pagar para fazer isso, não teria a
perspicácia de associar movimentos por baixo de um edredom à meia luz,
mesmo que só do macho, como sendo violação sexual contra a parceira.
Assim como, nenhum de nós, blogueiros ou internautas mais ativos nas
redes sociais, perderia seu tempo assistindo essa asneira no canal pago
para pincelar contravenções a serem usadas contra a rainha do PiG.
Condenamos o programa por diversos motivos, inclusive sua
inconstitucionalidade. E em nossa determinação em reduzir-lhe a
penetração (desculpem o trocadilho involuntário… hahaha!), compramos um
argumento que, ao menos para mim, pareceu ser, desde o início, um tiro
no pé: todo o agito da blogosfera em torno do eventual estupro no BBB
12, certamente não custará a concessão da Globo. Nem mesmo a proibição
do programa. Mas criou e alimentou a polêmica e ajudando a alavancar a
sua audiência. Ouso dizer até que ajudamos o PiG a vender jornal e a
aumentar também a audiência nos canais satélites do programa na TV
aberta.
Aparentemente encurralada pelo episódio, a Globo – especialista que é
em novela fatiada – se aproveitou da situação e investiu num roteiro
improvisado. Atraiu os homens da lei que entraram em cena no Projac e
convocaram a suposta vítima a depor. Antes de sentar-se com o policial, a
moça deve ter recebido “conselhos” com promessas embutidas sutilmente.
Era necessário reforçar idéias como “preliminares consensuais”,
“carícias mútuas” etc. Jamais confirmar que estava bêbada feito um gambá
e, por isso mesmo, inconsciente. Não rolou grana aí, que a Globo não
pisa no molhado. Mas corrompe de outra forma… E a moça, que assim como
todos, está no programa para se dar bem, “compreendeu” que tinha dois
caminhos a seguir: carreira e sucesso financeiro (que ela pensa que
terá…) ou anonimato e dignidade. Por qual deles a sonhadora oca optou? O
que se espera das moças bonitas, vaidosas e ambiciosas, escolhidas a
dedo para serem objeto sexual no BBB? Afinal de contas, não é prática
incomum que muitas se submetam sexualmente para obter oportunidades no
disputadíssimo mundo da fama onde a Globo reina. Ela não teve dúvidas:
“adaptou” seu depoimento ao interesse de todos. Em todos, inclua-se os
homens da lei que não tinham a menor intenção de peitar a Globo (nem
ministro tem, aliás!). A polícia concluiu que, se houve sexo, foi
consensual. Ponto final. Por respeito à intimidade da moça e sua
família, o “caso” terminou ali mesmo. Duvido que qualquer procedimento
judicial condenando a Globo sobreviva.
Para acalmar os nervos da classe média hipócrita (que, no fundo,
adora escândalos sexuais envolvendo “famosos”), a emissora fez que não
era com ela e, cinicamente, mostrou-se a paladina da moral e dos bons
costumes desclassificando o suposto estuprador. Ainda bateu na tecla de
que sexo por baixo do edredom é prática comum em todas as edições do
BBB. O público aprovou. A moral foi salva e os internautas coçaram a
cabeça.
Em sintonia com a líder, seus irmãos de sangue da imprensa, que
também mamam na teta do BBB, mantêm o caldo fervendo. Entram em cena os
advogados do rapaz expulso dando sequência ao roteiro. Exigem que seja
reintegrado à “família BBB” – o que, na verdade significa que
reivindicam sua fatia do bolo, idenização. Falam em preconceito racial,
injustiça etc, e “ameaçam” a Globo… Até a imprensa internacional entrou
de gaiata e repercutiu o escândalo. Resultado: a audiência continua
bombando e o programa, antes condenado ao fracasso, saiu do vermelho.
A Globo pode não ter mais o poder de fabricar e eleger fantoches como
FHC ou Collor. Mas política é política, negócios à parte. É a empresa
mais poderosa do Brasil. Como disse Paulo Henrique Amorim, “o Brasil
pode ser maior do que a Inglaterra, mas é menor do que a Globo”. Não
adianta desviarmos do cerne da questão: sem o Marco Regulatório das
Comunicações, nada vai abalar a ditadura midiática do PiG.
Logo mais virá a próxima atração: o Carnaval, seu o habitual desfile
de bundas e a putaria dos bailes de salão que vão povoar as madrugadas
do telespectador. Em todos os canais.
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