domingo, 22 de janeiro de 2012

Como o BBB saiu do vermelho

Como alavancar a audiência de um programa que já estava condenado ao fracasso por ter esgotado suas possibilidades? Só nudez, romance e intrigas entre anônimos sarados, não dão mais conta das expectativas do público. Por isso, a produção do BBB passou a regar a “casa mais vigiada do Brasil” com bebidas alcoólicas. É como aquele velho truque machista de embebedar a mocinha para facilitar o assédio sexual. Neste caso, a estratégia foi desinibir os participantes induzindo-os a deixarem de lado princípios morais e partirem para a sacanagem – que é o que interessa. Bonitos, sarados, alcoolizados e obrigados a dividir as camas com os colegas do sexo oposto – tudo isso somado – trouxe à tona mais do que a encomenda: a polêmica do estupro praticamente explícito.

Mas, cá entre nós: não fosse a boataria que se espalhou rapidamente pelas redes sociais, talvez passasse batido. Afinal, sabemos que é preciso ser um completo idiota para assinar o pay-per-view deste programa e passar 24 horas diárias “vigiando os brothers”. E, certamente, quem se dispõe e pagar para fazer isso, não teria a perspicácia de associar movimentos por baixo de um edredom à meia luz, mesmo que só do macho, como sendo violação sexual contra a parceira. Assim como, nenhum de nós, blogueiros ou internautas mais ativos nas redes sociais, perderia seu tempo assistindo essa asneira no canal pago para pincelar contravenções a serem usadas contra a rainha do PiG.

Condenamos o programa por diversos motivos, inclusive sua inconstitucionalidade. E em nossa determinação em reduzir-lhe a penetração (desculpem o trocadilho involuntário… hahaha!), compramos um argumento que, ao menos para mim, pareceu ser, desde o início, um tiro no pé: todo o agito da blogosfera em torno do eventual estupro no BBB 12, certamente não custará a concessão da Globo. Nem mesmo a proibição do programa. Mas criou e alimentou a polêmica e ajudando a alavancar a sua audiência. Ouso dizer até que ajudamos o PiG a vender jornal e a aumentar também a audiência nos canais satélites do programa na TV aberta.

Aparentemente encurralada pelo episódio, a Globo – especialista que é em novela fatiada – se aproveitou da situação e investiu num roteiro improvisado. Atraiu os homens da lei que entraram em cena no Projac e convocaram a suposta vítima a depor. Antes de sentar-se com o policial, a moça deve ter recebido “conselhos” com promessas embutidas sutilmente. Era necessário reforçar idéias como “preliminares consensuais”, “carícias mútuas” etc. Jamais confirmar que estava bêbada feito um gambá e, por isso mesmo, inconsciente. Não rolou grana aí, que a Globo não pisa no molhado. Mas corrompe de outra forma… E a moça, que assim como todos, está no programa para se dar bem, “compreendeu” que tinha dois caminhos a seguir: carreira e sucesso financeiro (que ela pensa que terá…) ou anonimato e dignidade. Por qual deles a sonhadora oca optou? O que se espera das moças bonitas, vaidosas e ambiciosas, escolhidas a dedo para serem objeto sexual no BBB? Afinal de contas, não é prática incomum que muitas se submetam sexualmente para obter oportunidades no disputadíssimo mundo da fama onde a Globo reina. Ela não teve dúvidas: “adaptou” seu depoimento ao interesse de todos. Em todos, inclua-se os homens da lei que não tinham a menor intenção de peitar a Globo (nem ministro tem, aliás!). A polícia concluiu que, se houve sexo, foi consensual. Ponto final. Por respeito à intimidade da moça e sua família, o “caso” terminou ali mesmo. Duvido que qualquer procedimento judicial condenando a Globo sobreviva.

Para acalmar os nervos da classe média hipócrita (que, no fundo, adora escândalos sexuais envolvendo “famosos”), a emissora fez que não era com ela e, cinicamente, mostrou-se a paladina da moral e dos bons costumes desclassificando o suposto estuprador. Ainda bateu na tecla de que sexo por baixo do edredom é prática comum em todas as edições do BBB. O público aprovou. A moral foi salva e os internautas coçaram a cabeça.

Em sintonia com a líder, seus irmãos de sangue da imprensa, que também mamam na teta do BBB, mantêm o caldo fervendo. Entram em cena os advogados do rapaz expulso dando sequência ao roteiro. Exigem que seja reintegrado à “família BBB” – o que, na verdade significa que reivindicam sua fatia do bolo, idenização. Falam em preconceito racial, injustiça etc, e “ameaçam” a Globo… Até a imprensa internacional entrou de gaiata e repercutiu o escândalo. Resultado: a audiência continua bombando e o programa, antes condenado ao fracasso, saiu do vermelho.

A Globo pode não ter mais o poder de fabricar e eleger fantoches como FHC ou Collor. Mas política é política, negócios à parte. É a empresa mais poderosa do Brasil. Como disse Paulo Henrique Amorim, “o Brasil pode ser maior do que a Inglaterra, mas é menor do que a Globo”. Não adianta desviarmos do cerne da questão: sem o Marco Regulatório das Comunicações, nada vai abalar a ditadura midiática do PiG.

Logo mais virá a próxima atração: o Carnaval, seu o habitual desfile de bundas e a putaria dos bailes de salão que vão povoar as madrugadas do telespectador. Em todos os canais.

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