O mano Preto Zezé, Presidente Nacional da CUFAS será uma das atrações do 2º WebFor - Fórum de Comunicação Digital, em Fortaleza, dias 13, 14 e 15 de abril. Preto Zezé vai falar sobre "Favela e desenvolvimento em Redes Sociais". Inscrições gratuitas, e você já pode fazer sua inscrição pelo e-mail: webfor2012@gmail.com
Conheça um pouco da história do PRETO ZEZÉ
O nome dele é Francisco José Pereira, mas é conhecido como Preto Zezé, apelido que, segundo ele, foi adotado como uma forma pedagógica de tratar o racismo. É cearense, rapper, compositor, autor e trabalha com projetos sociais. Em meio a tantas funções, atualmente, é mais conhecido pelo seu trabalho desenvolvido na Presidência da Central Única das Favelas, a CUFA – uma organização criada, em 1999, pela união de jovens de várias favelas do Rio de Janeiro – onde está à frente desde fevereiro de 2011.
Em entrevista com algumas declarações polêmicas, concedida às estudantes de jornalismo Bruna Bezerra e Bárbara Magalhães, Preto Zezé falou sobre preconceito, políticas públicas contra drogas e a falta de oportunidades para os negros na sociedade. O rapper contestou o fato de a educação do ensino médio não ser boa o suficiente para poder acabar com as cotas de negros em universidades e afirmou que a sociedade não pode afastar-se dos jovens das favelas.
Você trabalha com música, é autor e trabalha com projetos sociais. Qual sua prioridade?
Preto Zezé: Eu sei lá (risos). Minha prioridade é me movimentar. Eu estou me centralizando mais na CUFA, porque tem muita gente boa chegando agora, então, a gente acaba se retirando de algumas funções do cotidiano pra cuidar de outras.
Após você se tornar presidente da CUFA e descentralizar o poder do Rio de Janeiro, como era o objetivo, o que mudou na instituição?
P.Z.: Na verdade, não mudou muito. A mudança da CUFA não se apega muito à mudança institucional, mas a mudança da Presidência confirma uma coerência da CUFA no sentido de combater as desigualdades. O natural é que a instituição fosse dirigida por um paulista, ou uma pessoa do Rio de Janeiro, ou então, que eu fosse pra lá. Essa coisa de institucionalidade, do cargo, não obedece a um processo eleitoral, mas a necessidades. Avaliou-se que esse lado de cá precisava de mais visibilidade, então, mudou-se pra esse lado.
Porque a sede da CUFA fica em um bairro de classe média, e não em uma periferia?
P.Z.: Legal, né? No foco dos ricos, essa é a lógica. Porque não? Porque não podemos ser empresários? Porque não podemos tirar primeiro lugar em medicina? Tem que ser só o cara que vende a cerveja, que vende a coxinha, que limpa o chão e que joga o lixo?! As pessoas não estão acostumadas com isso. A mentalidade casa grande- senzala não aceita que a senzala vá para dentro da casa grande. A gente tá colocando uma lógica num argumento, e, na prática, as pessoas estão entendendo.
A CUFA tem parceria com a Rede Globo. No que consiste a parceria?
P. Z.: A parceria consiste em alguns projetos sociais e comerciais. A Rede Globo é uma empresa que vende informação. Ela vive da audiência e da visibilidade dos anunciantes que pagam suas contas. Isso não é só a Globo, mas todas as empresas comerciais. Se a gente for por um critério de questionamento de quem mostra mais, ou menos, ou da forma que a gente quer, vamos ter que montar uma televisão pra nós. Porque, nesse cenário, não tem nenhuma emissora que contemple nossas expectativas. Ao mesmo tempo em que a Globo não mostra as favelas com a imagem e semelhança do nosso desejo, quando eu levo um basquete de rua para um bairro que só vai polícia, a mesma Globo que antes só mostrava aquela imagem negativa, agora está mostrando coisa positiva. O fato é que, independente da leitura que nós passamos, ideológica ou política, a Rede Globo alcança milhares de pessoas que são do nosso interesse.
Em seu documentário: ‘’Selva de Pedra. A Fortaleza noiada ’’, existem relatos de crianças que afirmam não sair do mundo das drogas por não conseguir apoio de ninguém. De que maneira a sociedade pode ajudar esses jovens viciados?
P. Z.: Não se afastando deles, a primeira coisa. A gente vê um abandono da juventude, por parte das políticas públicas. Saiu recentemente o mapa dos homicídios nos municípios brasileiros, e de cada 100 jovens mortos, 75% são negros, entre 14 e 25 anos, e moradores de favelas. Então, isso preocupa muito, por que é a nossa cara, são pessoas iguais a nós. Apesar de a gente ter saído daquele universo, ele continua sendo nosso princípio, a nossa causa.
Falta o Poder Público acordar e criar novas políticas públicas de combate às drogas?
P.Z.: Não. Acho que já criaram muitas políticas. Falta inovar e ousar. O Poder Público está numa sinuca de bico, porque tem tentado a saída policial e não tem dado jeito, vão tentar encontrar vagas nas clínicas e não vai funcionar. O ‘’cara’’ vai até ficar na clínica seis meses, um ano, mas depois, quando sair, vai ter que voltar pra algum lugar. Talvez o mesmo lugar em que conheceu as drogas. É preciso sociedade e governo juntar suas ações, do contrário, vamos ver a epidemia do crack se espalhar.
Como é a relação com a Prefeitura de Fortaleza?
P.Z.: A Prefeitura é parceira nossa acho que desde o início. A Luizianne tem uma mentalidade diferente. Nunca pensei que uma Prefeitura fosse ajudar o Rap e tal. Porque Rap é uma coisa muito louca, sem controle. Os partidos falam o que quer. Aqui, nós conseguimos fazer shows de todos os grandes nomes do Rap, acho que não faltou ninguém. O povo até se espanta, porque em São Paulo, que é a capital do Rap, não conseguiram. Mas tudo isso devido ao apoio fundamental da Prefeitura.
Que dificuldades você encontra quando vai instalar algum projeto social nas comunidades?
P.Z.: Muitas vezes a gente não vai, já estamos lá. Só falta descobrir o cara de lá que é igual a nós. Porque assim, eu não fui pro Lagamar, eu conversei com o Del, que já mora lá há anos, e fomos entrando em alguns acordos. Percebemos que seria bom desenvolver a história da CUFA por lá. Não tem uma receita pra cada bairro, até porque cada bairro tem um tempo próprio, uma linguagem, uma lógica e uma tensão local própria. A ideia é descobrir quem tá de sacana nessa rede toda. Tem que identificar o território, saber como é o clima. A partir daí, a pessoa da comunidade começa o trabalho. A dificuldade central é que acostumaram as comunidades a esperar pelas coisas ou querer pouco. Tem que ter uma mudança de concepção.
No convívio que você tem com os jovens da periferia, eles falam sobre o preconceito que sentem por parte da sociedade?
P.Z: O tempo todo. Eu fui descobrir que isso existia, com 17 anos. Existe uma dificuldade de tratar sobre isso, as pessoas se sentem mal. Você só resolve um problema, quando você o assume.
Como assim você descobriu que era negro aos 17 anos?
P.Z.: Foi através de uma música, que chama “negro limitado’’. Na minha cabeça, as referências eram a exclusão e o consumo. As roupas de marca, a história das armas, das gangues, que era assim que as meninas gostavam da gente e que conseguíamos conquistar um espaço de poder e visibilidade. E, aí, quando ele fala que isso tudo é furada, você vai descobrir várias coisas. Quando o cara descobre que é negro, ele vai voltar a fita, e vai descobrir quem não cantava o hino na escola, a menina que nunca era a rainha do baile, quem nunca era o príncipe da quadrilha. Em algumas pessoas, realmente, gera traumas. Não é fácil.
Você é a favor das cotas para negros, em universidades?
P.Z.: Não, mas não tem nada melhor ainda. Até melhorar a educação do ensino médio, deixa a gente com as cotas aqui. Se não, é desigual. Não vou esperar a educação melhorar, não tem nada melhor do que as cotas. Infelizmente. Todas as políticas pra esse grupo são as piores, e todos os espaços de poder não são desse grupo, só que eles são a maioria da população. É só você olhar, são 0,02% de negros nas universidades brasileiras.
Uma pesquisa feita pelo IBPS (Instituto Brasileiro de Pesquisa Social), a pedido da CUFA, mostra uma melhoria da qualidade de vida nas favelas cariocas, mesmo que alguns pontos ainda deixem a desejar. Atualmente, o que diferencia as favelas cariocas das cearenses?
P.Z.: Aqui é mais abismo, é mais separado. No Rio, a cidade é dentro da favela, não tem como segregar a cidade com as favelas; até mesmo por causa da geografia. Aqui não, aqui as pessoas segregam. Por incrível que pareça, é mais fácil você ser assaltado nas ruas de Fortaleza do que no Rio de Janeiro. Também há todo um mito construído entorno da violência no Rio. Porque lá é chapa quente mesmo; pra mim, o crime que existe é lá, de favela, com os caras armados, organizados.
Mas as favelas acabam sendo muito parecidas no sentido da desvantagem social. A dificuldade de arranjar dinheiro, de uma moradia, de colocar o filho na escola, de se alimentar. Isso é muito parecido em todos os lugares. Também tem a questão econômica, a economia do Rio de Janeiro é muito maior que a do Ceará.
Fonte: Blog do LabJor.
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