domingo, 8 de janeiro de 2012

Reflexão em quatro cenários

Por Rodolpho Motta Lima

Neste início de ano,  como alguns assuntos dos dias do nosso recesso ainda constituem bom material para reflexão e  debate,  permito-me, sobre eles, propor algumas questões.

I  -  O QUE APROXIMA O “CASO ADRIANO” DA DERROTA DO SANTOS?


O jogador Adriano, nesse novo episódio  que envolveu um estranho tiro e tudo mais, parece estar obtendo fora de campo um destaque que não consegue mais nos gramados em que chegou a “imperar”. Quando li a notícia, ainda estava sob o lamentável impacto do jogo em que o Barcelona triturou o Santos do Neymar com uma aula de futebol. Dois fatos isolados?  Não sei. A perspectiva da Copa no Brasil tem gerado substancial falatório que vem deixando clara a nossa atual desorganização e despreparo no âmbito do futebol. Do Ministério de Esportes à bala do Adriano, passando por “ícones” já não tão invejáveis como João Havellange  e dirigentes  para lá de discutíveis como Ricardo Teixeira, e também por técnicos tão boquirrotos quanto ineficientes e jogadores consagrados e paparicados  que ”brilham” em outras páginas de jornal que não as esportivas, parece que temos poucas razões para otimismo sobre o que nos espera em 2014.

II – O QUE VINCULA A DECISÃO SOBRE O JULGAMENTO DE JUÍZES CORRUPTOS À POSSE DE JADER BARBALHO? 


A decisão do STF, na pessoa do Ministro Marco Antônio de Mello, no sentido de suspender poderes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)  para investigar  atuações irregulares de juízes é, sem dúvida, um ato que fere a cidadania. A  justiça brasileira, aliás, vem sendo pródiga em decisões que sobrepõem o “legal” ao “moral”. Foi assim no caso da não aplicação da ficha-limpa nas últimas eleições, que propiciou, entre outros  efeitos, a posse de Jader Barbalho. A  decisão  do Supremo sobre o CNJ é apenas mais uma a desencantar os brasileiros interessados no combate à impunidade.  Não sei por que, lembrei-me de um certo juiz Lalau e imaginei, quem sabe, que ele talvez possa conseguir do Supremo, com jeitinho, uma decisão retroativa que lhe restitua as funções e ainda o indenize  pelos prejuízos...

III – O QUE RELACIONA  UM PIB MAIOR DO QUE A INGLATERRA  COM OS  INVEJÁVEIS ÍNDICES NO CAMPO DO EMPREGO?


Simbolizando, para ficar com a expressão televisiva, “um novo tempo que já chegou”, a notícia  de que o  PIB do Brasil - que mede toda a riqueza produzida pela nação -  já supera  o da Inglaterra, retirando-lhe a sexta posição, leva minhas lembranças aos tempos de estudante em que a imponência inglesa me era apresentada com toda a pompa e circunstância de um histórico Império colonial, sua realeza  de contos de fadas, seus mui digníssimos lordes e sua ampla influência planetária. De lá para cá, devagar, mas firmemente, vamos dando os nossos passos de competência em meio à derrocada europeia, ocupando espaço impensável em um tempo não muito distante. Pois é. Se formos fazer um balanço desse primeiro ano da Dilma, perceberemos que, ainda que a mídia manipuladora apregoe o caos e a crise a cada minuto, tivemos um ano promissor. Essa superação da Inglaterra pode ser relativizada, porque sabemos que a nossa riqueza é distribuída com flagrante desequilíbrio social. Mas, ainda assim,  é  um dos indícios dos acertos do governo. E  há muitos  outros, como o novo salário mínimo, com ganho real de cerca de 9% para a massa trabalhadora, e a efetiva redução de desempregados entre nós, o  que torna invejável a posição do Brasil no crítico cenário mundial.

IV - O QUE LIGA  O BADALADO  “LIVRO DO BONI”  À  ESCONDIDA  “PRIVATARIA TUCANA”?


Na realidade, tudo separa os dois livros, pelo menos no que  diz respeito a autores e objetivos. Algumas poucas “curiosidades” que o “Livro do Boni” encerra cedem espaço maior para escancaradas doses de autoendeusamento e, em muitos momentos, para a deliberada  superficialidade que deixou de fora, por exemplo, esclarecimentos mais concretos sobre parcerias, explícitas ou veladas, com o Grupo Time-LIfe nos anos 60, ou com os governos militares, nos anos de chumbo, e manteve escondida ou minimizada a verdadeira postura da Globo  em episódios como  os da Proconsult na eleição do Brizola, da omissão  na campanha  das “Diretas Já”, ou da edição antijornalística e antidemocrática  do debate Collor x Lula.

Se esse livro nada acrescenta, não se diga o mesmo da “Privataria Tucana”, que, convenientemente ignorado pela mídia neoliberal, não só é leitura obrigatória de todos os brasileiros como merece ter cada uma de suas páginas examinadas  a fundo, porque, das duas uma: ou elas contêm mentiras, invenções ou deturpações que devem levar o jornalista às barras dos tribunais, ou as figuras ali denunciadas devem pagar pelos crimes de lesa-pátria descritos, saindo da vida pública para entrar no cotidiano carcerário. 

Esses quatro cenários  de reflexão, que vão do futebol ao poder judiciário, passando pela política e pela economia, são, acredito, um bom mosaico da realidade brasileira, suas virtudes, suas mazelas,  suas contradições. E, por certo, terão desdobramentos no ano que se inicia. Estejamos atentos.

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