Um “balão meio murcho”, com o suficiente para se manter no ar e não
cair no chão, mas, em contrapartida, sem uma quantidade de gás capaz de
fazê-lo encher completamente e, de fato, decolar. É assim que o
ex-governador de São Paulo José Serra enxerga o senador mineiro Aécio
Neves como alternativa eleitoral do PSDB para a sucessão de Dilma
Rousseff em 2014. Segundo um dirigente tucano, Serra aposta que Aécio
não será capaz de se colocar como contraponto a Dilma e, no final, o
PSDB acabará retornando a ele como opção, por conta da sua maior
experiência e recall – por já ter disputado três eleições
presidenciais, e perdido todas, ele acredita que já entraria numa
disputa com um patamar em torno de 20%.
Essa seria a razão que faria, segundo esse dirigente, Serra resistir à
ideia de disputar este ano a prefeitura de São Paulo. Em 2006, Serra
foi muito criticado por ter deixado a prefeitura para disputar o governo
de São Paulo, até porque, quando eleito prefeito, ele cometera o erro
de registrar em cartório que cumpriria o mandato até o fim. Assim, como
tem a esperança de ainda retornar como opção presidencial do PSDB mais à
frente, Serra teme a ideia de ser eleito prefeito agora e novamente ter
que abandonar o mandato pelo meio para tentar a presidência.
Questão de estilo
Para Serra, seria uma “questão de estilo”. Aécio, na imitação de
perfil político que procura fazer de seu avô, Tancredo Neves, não teria a
pegada necessária para ser um candidato de oposição a um governo bem
avaliado. Como Aécio se recusa a ter uma postura mais agressiva, não se
estabelece como um contraponto natural, como alguém a quem naturalmente
se recorra para criticar e propor alternativas às ações e políticas de
Dilma. É um posicionamento de alguém que poderia se colocar como opção
de conciliação a um governo que estivesse em crise, desgastado. Como
aconteceu com Tancredo nos estertores da ditadura militar. Esse,
provavelmente, não será o cenário de 2014, quando Dilma, hoje mais bem avaliada que seus antecessores Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo período de governo,
deverá se apresentar com força para a reeleição. Hoje, como senador,
Aécio surge como contraponto a Dilma bem menos que, por exemplo, o líder
do partido no Senado, Alvaro Dias (PR).
Assim, Serra pretende ficar esperando. Hoje, o partido cobra de
Aécio uma postura mais ativa, uma presença maior no debate político. Mas
já há quem avalie que ele, pelo seu estilo, nunca será mesmo tão
agressivo quanto o PSDB gostaria. Em sua defesa, Aécio tem dito que é de
fato difícil apresentar-se como contraponto a um governo muito bem
avaliado. E que ainda não seria o momento de se apresentar de forma mais
explícita como candidato à sucessão de Dilma.
Quebrar na raiz
O problema, para o PSDB, são os prejuízos políticos que essa briga
entre Serra e Aécio, especialmente numa eventual aposta de Serra no
fracasso de Aécio como opção eleitoral, podem trazer. Os tucanos avaliam
que há hoje uma concentração de esforços do PT para vencer a disputa
pela prefeitura de São Paulo. Seria uma forma de quebrar o PSDB na raiz,
na cidade e no estado em que os tucanos nasceram e são mais fortes. Com
o agravante de que a mesma falta de clareza observada hoje quanto à
escolha de uma opção tucana para a prefeitura existe sobre quem se
apresentaria em 2014 como candidato à sucessão de Geraldo Alckmin no
governo de São Paulo. Ou seja: hoje há o risco de os tucanos perderem
tanto a prefeitura este ano como o governo paulista mais adiante.
O PSDB ainda acredita na sua força em São Paulo. Avalia que, por
conta dela, poderia colocar um candidato no segundo turno da eleição
para prefeito, mesmo que ele não fosse Serra. Mesmo assim, é uma aposta
arriscada. Mais seguro seria contar com Serra como candidato. E, por
isso, insiste com o ex-governador para que ele volte atrás na decisão
anunciada de não disputar a prefeitura.
Embora a intenção de Serra seja ainda ficar fora da disputa paulista,
os dirigentes tucanos avaliam que ele já começa a dar mostras de poder
mudar de ideia. Se por um lado Serra quer ficar a postos para se
apresentar como alternativa diante do eventual fracasso de Aécio, por
outro preocupa a ele o fato de hoje não ter qualquer cargo político, o
que lhe deixa sem vitrine para se contrapor a Dilma e ao atual governo.
“Digamos que hoje ele já é menos reativo à ideia do que era no início do
ano”, diz o dirigente tucano.
O problema, para o PSDB, é ser hoje vítima do complicado timing
das suas duas principais estrelas. Em que momento Aécio considerará que
deve se expor mais como contraponto a Dilma? Quando Serra vai decidir
se será ou não candidato à prefeitura de São Paulo? Em princípio, o
prazo final de Serra é 4 de março, data das prévias que o partido
pretende fazer para a escolha do candidato a prefeito.
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