Band denuncia relação de policiais que atuam na USP com PCC
O jornalista Sandro Barboza divulgou trechos de um relatório de investigação da morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, dentro da USP em maio de 2011, o qual afirma que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) paga “semanalmente elevados valores aos policiais militares que atuam na região”. A morte do estudante dentro do campus da USP foi o pretexto utilizado pelo reitor Grandino Rodas para a implementação permanente de efetivos da PM no campus.
Fábio Nassif
São Paulo - O Jornal da Band transmitiu uma matéria na noite
desta terça-feira (27) com uma denúncia sobre o envolvimento de
policiais militares e integrantes do crime organizado dentro da
Universidade de São Paulo, entre outros locais. O jornalista Sandro
Barboza divulgou trechos de um relatório de investigação da morte do
estudante Felipe Ramos de Paiva, dentro da USP em maio de 2011, o qual
afirma que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC)
paga “semanalmente elevados valores aos policiais militares que atuam na
região”.
A morte do estudante dentro do campus da USP foi o
pretexto utilizado pelo reitor Grandino Rodas para a implementação
permanente de efetivos da PM no campus. O relatório sobre o caso, feito
pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), da
Polícia Civil, foi arquivado justamente porque se tratava de um esquema
da PM com os criminosos, segundo a reportagem. O relatório arquivado foi
a base para a investigação da equipe de reportagem da emissora.
“Mesmo
tendo recebido o documento, a Secretaria de Segurança Pública designou
os policiais do 16º BPM para fazer o patrulhamento na cidade
universitária”, diz o jornalista na reportagem, em referência ao
Departamento Policial que faz fronteira com a USP e com a Favela de São
Remo.
A reportagem é baseada neste relatório e no depoimento de
um ex-investigador do DHPP (não identificado) que teria ajudado neste
caso. Ele afirma que “alguns trabalhos, com certeza o governador
[Geraldo Alckmin], o secretário de Segurança Pública [Antônio Ferreira
Pinto], o comandante-geral da PM [Coronel Álvaro Batista Camilo] têm
ciência”. A edição da matéria sugere que o caso da USP seria um deles.
O
intervalo de tempo entre a morte do estudante e a implementação do
policiamento cotidiano na USP coincide com a finalização e o
arquivamento do relatório da Polícia Civil. Ou seja, a decisão do reitor
João Grandino Rodas foi simultânea à conclusão do relatório sobre a
morte do estudante.
Criminalização
O convênio entre a
Secretaria de Segurança Pública e a USP é de setembro de 2011, assinado
por Ferreira Pinto e Rodas, mas apenas no dia 27 de outubro o movimento
estudantil expressou com mais veemência sua contrariedade ao convênio,
depois de a Polícia Militar deter três estudantes por supostamente
portarem uma pequena quantidade de maconha. No mesmo dia, houve uma
ocupação da sede da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH), e policiais usaram bombas, balas de borracha e
cassetetes contra estudantes.
No dia 11 de novembro, a PM
entrou com um efetivo de 400 policiais e prendeu 73 estudantes que
ocupavam o prédio da reitoria. Em seguida, o movimento estudantil ganhou
força, realizou assembleias massivas e decretou greve. A Polícia
Militar permaneceu atuando no local e novos conflitos já ocorreram.
As
novas denúncias podem inverter o discurso que o reitor e o governo do
Estado de SP conseguiram impor à sociedade, com ajuda de alguns meios de
comunicação, de que os estudantes – usuários ou não de drogas – e o
movimento estudantil são os criminosos contra os quais a policia deve
estar em luta permanente. Se as informações da investigação estiverem
corretas, poderão comprovar que os criminosos são os policiais militares
do reitor Rodas, do Secretário Ferreira Pinto e do governador Geraldo
Alckmin (PSDB).
A Carta Maior publicou matéria em novembro de 2011
sobre a aposta da Secretaria de Segurança Pública em militares linha
dura e a interferência da secretaria nas investigações do DHPP nos casos
de mortes cometidas por policiais, registradas como “resistência
seguida de morte”. Segundo os dados da própria secretaria, apenas 30%
das investigações dessas ocorrências explicaram o ocorrido.
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