BRASÍLIA
- O conjunto de gravações da Polícia Federal sobre as relações entre
Demóstenes Torres (sem partido-GO) e o bicheiro Carlinhos Cachoeira
mostram que em março de 2011 o senador tentou indicar uma pessoa ligada
ao bicheiro, a pedido dele, para os quadros da Receita Federal. Esse era
o período em que Demóstenes estava aprofundando seus laços com o braço
internacional da quadrilha, mantendo contato e fechando negócios com o
argentino Roberto Coppola, apontado pela PF como um "mega empresário
argentino do caça-níqueis" e consultor de Cachoeira na Argentina e
Uruguai.
Para tentar pôr um nome de Cachoeira na Receita, mesmo sendo um dos
principais líderes da oposição, Demóstenes procurou o senador Francisco
Dornelles (PP-RJ), ex-ministro da Fazenda e ex-secretário da Receita. O
diálogo gravado pela PF mostra que Dornelles não aceitou ajudá-lo,
frustrando a quadrilha:
- (Dornelles) diz que não tem nenhuma influência lá. Eu falei "mas e se houver, você apoia uma indicação?" Ele falou assim "o Fisco não recebe indicação política. Não recebe indicação política". Ou seja, o cara lá deve ser dele, mas ele não quis assumir - diz Demóstenes para Carlinhos.
Não satisfeito, Cachoeira faz uma lista de pedidos:
- É verdade.... O cara da Anvisa, você podia ligar pra ele pra mim... E o Pagot também... Vê essas duas coisas aí - pede o bicheiro.
Demóstenes também defendeu os interesses comerciais de Cachoeira fora
da região Centro-Oeste. O senador se comprometeu a ir a Santa Catarina
receber Coppola. O telefonema é de 17 de março de 2011. Cachoeira faz o
pedido, sem cerimônia:
- O Roberto, o argentino, ele vai tá lá. Ele vai tá lá em Santa Catarina. Você podia receber ele lá um pouquinho pra mim. Sábado de manhã. Vê com ele pra mim.- Vejo - diz Demóstenes.
Em outra gravação, feita em 13 de agosto, Cachoeira liga para Lenine
Araújo de Souza, seu braço-direito. Lenine diz que está no restaurante
Porcão em Brasília, com Coppola. Em seguida, Lenine repassa o telefone
para o argentino, que, após cumprimentos protocolares, avisa que está
acertado um negócio envolvendo Demóstenes:
- Escuta, o negócio do Demóstenes, ela (sic) está para o final do mês. Estou mandando.- Ah, excelente. Ele perguntou ontem - afirma Cachoeira.
Em outra gravação, Cachoeira pede a um de seus funcionários para que
usasse a suposta influência de uma aliada junto ao ex-premier italiano
Silvio Berlusconi, para que Demóstenes fosse convidado a visitar a
Itália e faturasse politicamente com a decisão do governo brasileiro de
não extraditar Cesare Battisti.
Segundo a PF, Demóstenes foi usado pela quadrilha até para pedir que
policiais envolvidos em grupos de extermínio fossem transferidos de um
presídio em Mato Grosso para Goiás.
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