quinta-feira, 26 de abril de 2012

Por que este debate não pode ocorrer no Brasil [As relaçõs da revista Veja com o poder]

Foto: Reuters TV_ Fred Chalub/Folhapress

Num ato que foi chamado de "A Vianganga dos Murdoch", Rupert e James escancararam no inquérito Leveson a proximidade entre o grupo de mídia News Corp. e o Parlamento inglês, inclusive com o primeiro-ministro David Cameron. Do outro lado do Atlântico, Abril tenta abafar o envolvimento da Veja no Caso Cachoeira para poupar Roberto Civita da humilhação

Há dois dias, o Reino Unido parou para assistir aos depoimentos de Murdoch pai e filho sobre o escândalo de espionagem envolvendo o News of the World e a relação entre jornalistas e políticos. Se a notícia anunciada ontem sobre a volta do País à recessão econômica assusta, revelações embaraçosas sobre o envolvimento do Parlamento inglês nesse caso choca ainda mais. Na terça-feira, James Murdoch não poupou detalhes à Comissão Leveson para descrever sua proximidade com o poder, o que foi classificado no dia seguinte pelos jornais como "A Vingança dos Murdoch".

Então presidente da News International, ele confirmou ter mantido estreitos contatos com os ministros do Reino Unido. Em especial, o de Cultura, Jeremy Hunt, suspeito de ter passado informações ao grupo Murdoch para a compra da totalidade da operadora de TV a cabo “BSkyB”. O filho do magnata revelou também pelo menos 12 encontros com o premiê David Cameron.

Na quarta-feira, Rupert Murdoch tentou minimizar o estrago causado pelo filho, dizendo que nunca pediu nada a um primeiro-ministro: “É natural que políticos busquem editores e às vezes proprietários, se eles estiverem disponíveis, para explicar o que estão fazendo. Mas, eu era apenas um entre muitos.” De qualquer forma, a relação contestável entre o grupo de mídia e o poder foi confirmada e agora será minuciosamente investigada pela comissão de inquérito.

Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, nossos barões da mídia são acobertados. Investigações da Polícia Federal revelaram fortes as ligações entre a revista Veja e o esquema do contraventor Carlos Cachoeira. Além das 200 ligações entre o bicheiro e o jornalista Policarpo Júnior, várias reportagens publicadas pela revista apontam um nexo entre os grampos ilegais do bicheiro e os furos de reportagem da publicação.

Mesmo assim, o nome do empresário Roberto Civita, presidente do grupo Abril, não consta entre os requerimentos apresentados pelos partidos políticos no primeiro dia de funcionamento da CPI mista do Cachoeira.

A Veja decidiu partir para o ataque e, em sua última edição, denunciou uma suposta tentativa do governo de amordaçar e calar a imprensa livre no Brasil. O argumento caiu por terra depois que os Murdoch abriram a boca. A Inglaterra não é um país que restringe nem de longe a liberdade de imprensa.

Como o 247 noticiou na semana passada, a Editora Abril tem feito um intenso trabalho de bastidores para evitar que Roberto Civita seja convocado. O pedido será apresentado pelo deputado Fernando Ferro (PT/PE). O ex-presidente Lula, que participa ativamente da articulação da CPI, considera a convocação de Civita como um ponto de honra. Fabio Barbosa, presidente-executivo da Abril e ex-presidente da Febraban, já foi a Brasília para fazer lobby contra a convocação do chefe.

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