Um resumo do livro foi publicado nesta sexta-feira pelo jornal Il Corriere della Sera ©AFP / Vincenzo Pinto |
ROMA
(AFP) – A publicação de uma série de cartas confidenciais do papa Bento
XVI sobre temas quentes, como as intrigas do Vaticano e os escândalos
sexuais do padre mexicano Marcial Maciel, provocou desconforto na Itália
diante de um vazamento de informações sem precedentes.
Um resumo do livro, que estará a venda no sábado em toda a Itália com o título Sua Santidade, cartas secretas do Papa, escrito por Gianluigi Nuzzi, autor do best-seller Vaticano SA, sobre as finanças da Santa Sé, foi publicado nesta sexta-feira pelo jornal Il Corriere della Sera.
Baseado
em cartas confidenciais destinadas ao papa Bento XVI e ao seu
secretário pessoal, Gerog Gaenswein, o livro descreve manobras e
confabulações dentro do Vaticano e inclui relatórios internos enviados
para o Papa sobre políticos italianos como Silvio Berlusconi e o
presidente da República Giorgio Napolitano.
Também
relata os confrontos com a chanceler alemã Angela Merkel sobre aqueles
que negam o Holocausto, e as confissões do secretário do fundador da
Congregação Mexicana Legionários de Cristo, Marcial Maciel, acusado de
abusar de crianças e de ter uma vida dupla com duas mulheres e filhos.
Nuzzi
teve acesso, possivelmente através de funcionários da Secretaria de
Estado, a centenas de documentos, incluindo alguns que levam o selo
“Reservado”, que foram elaborados pelo mesmo secretariado.
Este
é o maior vazamento de documentos na história recente do Vaticano, que
até agora não se pronunciou oficialmente sobre o assunto.
Entre
as informações vazadas, figuram diretrizes específicas para tratar de
questões com o Estado italiano por ocasião da visita presidencial em
2009.
“Devemos evitar qualquer equivalência entre a família fundada sobre o matrimônio e outros tipos de uniões”, diz o texto.
Marcial Maciel foi acusado de abusar de crianças e de ter uma vida dupla com duas esposas e filhos ©AFP / Omar Torrestodos |
De acordo com trechos publicados pelo Il Corriere della Sera no suplemento especial Sette, o secretário do papa recebeu por fax todos os detalhes do chamado “escândalo Boffo”, a operação para desacreditar o editor do Avvenire,
jornal da Conferência Episcopal italiana, mediante acusações falsas de
assédio homossexual e homossexualidade contra o jornalista Dino Boffo.
Tais
cartas resumem o clima recente de guerra ocultada pelo poder dentro do
governo central do Vaticano, a influente Cúria Romana, que minou a
credibilidade da Igreja.
O
nome do atual secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone, mão
direita do Papa e número dois da Santa Sé, está presente em muitos dos
documentos e é afetado de forma negativa, sendo possível que o livro
seja uma operação midiática para atacá-lo.
O jornal italiano Libero também
publicou comentários sobre o livro. Nuzzi chegou a comentar sobre o
difícil ano vivido com os “corvos” do Vaticano, que lhe passaram os
documentos entre “silêncios, longas esperas e precauções maníacas”.
O
jornalista confessou que não manteve mais contato com este “grupo
informal” de informantes desde que o Papa nomeou uma comissão de
inquérito, em março passado, para investigar os vazamentos, conhecidos
como “Vatileaks”.
CartaCapital, via MARIA DA PENHA NELES!
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