Durante Cúpula dos Povos, diretor de agência da ONU é vaiado e admite falhas da economia verde
Achim Steiner foi fortemente criticado por sugerir que os mercados se apropriem da gestão ambiental
A Cúpula dos Povos fechou seu segundo dia de atividades neste sábado
(17/06), no Rio de Janeiro, com um debate intenso entre o
diretor-executivo do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente), Achim Steiner [foto], e alguns dos principais coordenadores do
evento. Em meio a fortes críticas e vaias do público, acentuou o
antagonismo de visões que separa o encontro altermundialista das
propostas da ONU para o rumo das políticas ambientais ao longo dos
próximos anos.
Foi o próprio diretor-executivo da Pnuma quem pediu aos organizadores
da Cúpula na noite desta quinta-feira (14/06) para participar do debate
“Diálogo sobre Economia Verde”. Sua aparição surpreendeu a todos e foi
muito aplaudido em sua chegada. Admitiu diferenças de visão de mundo e
respondeu a críticas ao longo de duas intervenções.
Em sua segunda fala, contudo, foi vaiado pelo público ao defender o
pragmatismo na tomada de decisões das Nações Unidas para o meio ambiente
e ao considerar impossível uma solução sem a participação dos mercados.
O diretor reconheceu falhas e contradições nas negociações para o
documento final que está sendo construído na Rio+20 (Conferência das
Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável) e imperfeições no
conceito de “economia verde”. Entretanto, argumentou que “é no Riocentro
que as decisões estão sendo tomadas” e que o mundo “não irá para frente
se ficar focado no debate capitalismo versus anticapitalismo”.
Como exemplo, citou que existem países que investem em desenvolvimento
sustentável, mas onde o Estado contribui com apenas 20% do Produto
Interno Bruto.
Contradição
Pablo Solón, ex-embaixador boliviano na ONU e ativista ambiental,
também estava presente na mesa e também criticou o secretário-executivo.
Ele o acusou de não estar sendo sincero sobre as reais intenções da
promoção da economia verde que, em sua opinião, servirá como uma mera
desculpa para manter os processos de desmatamento e contaminação do
ambiente.
Didático, Solón apontou contradições entre relatórios do Pnuma sobre
economia verde e o discurso de Steiner em favor de iniciativas da ONU
para que os mercados se apropriem da gestão ambiental. “A ONU cita o
exemplo da Austrália. Mas vocês sabem do que eles estão falando? É do
direito de privatizar a propriedade sobre as fontes de água no país! A
ONU cita o exemplo de Israel. É o modelo que queremos? Que se utilize
água como um mecanismo político para acabar com um povo como o
palestino?”, questionou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário