O bombardeio midiático de saturação contra o governo Dilma começou neste ano. Nos seus dois primeiros anos, a presidente desfrutou de coexistência pacífica com a mídia, cujos ataques se limitaram ao PT e ao ex-presidente Lula. Agora, aqueles ataques deram lugar ao que este Blog previu, ao longo de 2011 e 2012, que ocorreria.
Era previsível que o ataque a Dilma seria deixado para mais perto de
sua sucessão (2014) e que, primeiro, haveria que desmoralizar o
responsável pela eleição dela e o partido de ambos.
Nos últimos dias, este Blog vem criticando duramente o que qualificou
como mutismo da presidente e do PT diante dos ataques da oposição e da
mídia, nos quais o discurso antigoverno se tornou tão uníssono que chega
a impressionar, dando a impressão de que o pré-candidato tucano Aécio
Neves vem escrevendo os textos dos três grandes jornais e da principal
revista semanal de oposição
Tanto faz ler a Folha de São Paulo, o Globo, o Estado de São Paulo ou
a revista Veja. Os três – entre outros – divulgam editoriais, artigos,
colunas, reportagens e até cartas de leitores idênticos exprimindo meras
opiniões contra o governo e de vitimização da oposição.
E como tanto faz ler sobre política em um dos três grandes jornais ou
na revista semanal e congêneres, tome-se como exemplo editorial da
Folha deste sábado, o qual deixa a impressão de ter sido escrito com
base em pronunciamento recente do senador tucano por Minas Gerais, Aécio
Neves, em que acusou a presidente da República de ser a responsável por
informação errada dada pela Caixa Econômica Federal sobre a liberação
antecipada de pagamentos do Bolsa Família e pelos boatos que causaram
pânico entre os beneficiários do programa.
Primeiro, assista ao pronunciamento de Aécio e, em seguida, leia o
editorial da Folha. Ambos dizem exatamente a mesma coisa e, assim,
deixam ver, a quem estiver disposto a enxergar os fatos, a aliança
explícita, ainda que não assumida, entre meios de comunicação e partidos
que visa derrotar o grupo político encastelado no poder há uma década.
Entrevista coletiva de Aécio Neves
Editorial da FolhaFOLHA DE SÃO PAULO1º de junho de 2013Boatos e fatosCaixa Econômica cria tumulto com o Bolsa Família; governo implica oposição e depois admite erro, mas não considera que deva satisfaçãoO Palácio do Planalto anunciou que não será demitido o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, cuja atuação foi muito criticada, ao longo da semana, após as confusões em torno do cronograma de pagamentos do Bolsa Família. Diversa em situações anteriores, desta vez a presidente Dilma Rousseff manteve o auxiliar.
Rumores variados –não só sobre o descabido fim do benefício, mas também, contraditoriamente, sobre a concessão de um bônus extraordinário de Dia das Mães– provocaram filas e tumultos em agências da Caixa nos mais diversos pontos do país.
Terminais eletrônicos foram depredados, a polícia foi chamada a intervir em alguns municípios, aglomerações se verificaram. O súbito surto de insegurança quanto ao benefício, que se alastrou nos dias 18 e 19 de maio, ficou inexplicado, mas autoridades federais sugeriram que uma ação coordenada propagara o boato.Na semana seguinte, os repórteres Aguirre Talento e Daniel Carvalho, desta Folha, provaram que houve antecipação do pagamento para uma beneficiária em 17 de maio. A própria Caixa, portanto, um dia antes do início do tumulto, alterara sem aviso prévio todo o calendário de depósitos — fato esse que provavelmente deu origem à confusão.Fosse apenas um caso de desordem administrativa, já não seria pouco. Houve mais, porém. No auge dos desencontros, a Caixa anunciou oficialmente que a liberação de todos os benefícios ao mesmo tempo ocorrera por força dos tumultos. Ocultou, assim, sua própria decisão prévia de antecipar os pagamentos.Mais ainda, e com leviandade, membros do governo passaram a apontar interesses oposicionistas na origem dos rumores. Tudo teria nascido da vontade de prejudicar o governo federal. “Gente do mal”, disse o ex-presidente Lula. Coisa de alguém “criminoso” e “desumano”, qualificou a presidente Dilma.Ainda que caiba investigar como a falsa notícia se espalhou, não é exagero dizer que, em meio ao descontrole, interveio um conhecido componente do maniqueísmo petista: o governo é incapaz de errar, por ser intrinsecamente do bem.Os boatos, que teriam sido evitados se a Caixa fosse mais transparente e organizada, partiram dos inimigos do povo. Os governistas mais ferrenhos já voltavam, contra a oposição, sua sede de justiça.Descobre-se então que a balbúrdia nascera da própria administração federal –mas a matriz de todos os rumores vinha escondendo o fato, na expectativa mesquinha de tirar vantagem política do tumulto que deslanchou.
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Evidentemente que nem a oposição nem o jornal aliado tocam nos vários
pontos que põem em xeque essa argumentação, como, por exemplo, o boato
ter ficado restrito a Estados do Norte e do Nordeste e à Baixada
Fluminense – em um país que tem o dobro dos Estados atingidos – ou como a
velocidade espantosa com que a farsa se espalhou – em poucas horas.
Todavia, não se trata, aqui, de questionar a versão tucano-midiática,
mas a sintonia escancarada entre oposição e meios de comunicação, que,
desde 2003, vem ocorrendo em absolutamente todos os embates entre PT e
PSDB, DEM e PPS.
As críticas ao governo Dilma e ao PT que têm sido feitas neste espaço
são por se manterem praticamente indiferentes a essas distorções dos
fatos que o vídeo de Aécio e o texto da Folha acima reproduzidos
encerram. Contudo, contato com fonte do Planalto revelou o ponto de
vista da presidente da República e até a origem desse ponto de vista.
Sobre as acusações de alheamento ao processo de difamação do governo,
a fonte garante que este vem fazendo medições diárias dos efeitos do
bombardeio midiático através de um método de sondagem da opinião pública
conhecido como “tracking”, tudo sob o comando do marqueteiro João
Santana.
Nesse aspecto, sobre a cobrança deste Blog no sentido de que a
presidente da República fosse à televisão, em rede nacional, a fim de
fornecer ao público a versão correta dos fatos, o Planalto, por conta da
sondagem que faz da opinião pública, teria dados que comprovam que a
farsa “não colou” e que as falas não-oficiais da presidente, de Lula e
do presidente do PT teriam bastado.
Segundo aquela fonte, não está sendo feito hoje pela mídia nada que
já não tenha sido feito antes e que, como se sabe, não funcionou. O
Planalto consideraria, pois, que “Em time que está ganhando não se mexe”
e que futuras pesquisas que serão difundidas publicamente revelarão que
o bombardeio em curso terá sido “inútil”.
A ver.
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