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“Foi mal aê” |
Por Kiko Nogueira
Em circunstâncias normais, seria difícil julgar a sinceridade do
pedido de desculpas de Sérgio Moro por ter vazado os grampos das
conversas entre Lula e Dilma.
Mas qualquer dúvida sobre sua verdadeira intenção cai por terra
quando se leva em conta que o perdão não foi requisitado aos principais
atingidos pela operação, mas ao STF.
Se não é cinismo, pode chamar de, no mínimo, sabujice. Em ofício ao
Supremo, ele pede “respeitosas escusas” à corte por ter liberado o
conteúdos das escutas telefônicas. Não detalhou que foi para a Globo,
sua parceira fiel.
“O levantamento do sigilo não teve por objetivo gerar fato
político-partidário, polêmicas ou conflitos, algo estranho à função
jurisdicional, mas, atendendo o requerimento do MPF, dar publicidade ao
processo e especialmente a condutas relevantes do ponto de vista
jurídico e criminal do investigado ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que podem eventualmente caracterizar obstrução à Justiça ou
tentativas de obstrução à Justiça”, escreveu o homem que estrelou
eventos de João Doria, do PSDB.
“Ainda que este julgador tenha se equivocado em seu entendimento
jurídico e admito, à luz da controvérsia então instaurada que isso pode
ter ocorrido, jamais, porém, foi a intenção desse julgador”.
Parece confuso e é confuso. Em sua opinião, ele “tem, em seu entendimento, agido, em geral, com cautela e prudência”.
Se cautela e prudência é mandar para a “imprensa simpatizante” — como
o próprio definiu no ensaio sobre a Mãos Limpas — absolutamente
qualquer documento da Lava Jato, é de se pensar como seria se ele fosse
precipitado e imprudente. Moro não passaria naquela clássica pergunta de
emprego sobre como o sujeito se enxerga.
Na próxima quinta, o STF vai decidir se o juiz continuará na condução
dos inquéritos contra Lula. O bom menino tenta agradar a chefia.
Em “Além do Bem e do Mal”, Nietzsche, o compositor baiano favorito
dos promotores de São Paulo, escreveu o seguinte: “Eu fiz isso, diz
minha memória. Eu não posso ter feito isso, diz meu orgulho, e permanece
inflexível. Por fim, a memória cede”.
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