Por Teresa Cruvinel
Não se ouviu do STF qualquer manifestação sobre o pedido de desculpas
do Juiz Sergio Moro por ter divulgado a conversa Lula-Dilma, captada
por um grampo realizado ilegalmente porque feito depois de sua própria
ordem de suspensão da escuta à Lula. Ele reconheceu o erro, pois havia
nas conversas não apenas Dilma, mas outras autoridades com foro
privilegiado.
O CNJ em algum momento examinará o caso e dirá se as desculpas
polidas de Moro são suficientes. Mas nem o pedido de desculpas nem uma
eventual punição ao juiz anularão os efeitos devastadores que a
divulgação teve sobre o processo político nem os danos morais causados
aos envolvidos e especialmente a Lula, que teve sua intimidade devassada
e conversas íntimas expostas à execração, provocando até reações do
próprio STF o que ela disse em desabafos com pessoas próximas, e não em
público.
Foram as conversas divulgadas que fermentaram as manifestações a
favor do impeachment do dia 13, imprimindo grande velocidade ao processo
de impeachment no Congresso. Foram elas que deram pretexto ao PMDB para
acelerar seu desembarque do governo. Foram elas que fundamentaram a
ação em que o ministro Gilmar Mendes impediu a posse de Lula como
ministro, privando Dilma de sua valiosa ajuda para enfrenar as
adversidades políticas que ameaçam seu mandato. Foram elas que
fundamentam outros pedidos de impeachment apresentados à Câmara. Foram
elas, enfim, que criaram o perigoso clima de confronto no dia 18, quando
os apoiadores do governo também foram às ruas. A PM de São Paulo só
conseguiu tirar os contrários ao governo da avenida paulista na manhã da
manifestação dos apoiadores que são contra o impeachment.
De tudo isso o que se infere é que o Juiz Sergio Moro conseguiu
produzir efeitos políticos, com sua decisão, que nenhum dos partidos de
oposição ao governo conseguiu com suas CPIs, discursos e ações
judiciais. Se ele não teve este propósito, como alega, terá que explicar
o que pretendia, se algum dia isso lhe for perguntado pelo CNJ.
Por isso o pedido de desculpas é uma atitude louvável, mas absolutamente insuficiente diante das repercussões do ato do juiz.
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