sábado, 16 de abril de 2016

Editorial: Até tu, Cristovam Buarque? [Ou, o impeachment ainda não foi votado.]


Por José Luiz Gomes

Repercute nas redes sociais uma declaração - parece-nos que não é recente - do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki. Neste declaração, o ministro afirma que "não há nada a investigar sobre Dilma Rousseff". Isso já foi dito aqui inúmeras vezes, mas não custa repetir: como chegamos a um estágio em que uma presidente eleita está sendo submetida a julgamento num processo de impeachment sem uma fundamentação jurídica que o embase, ou o chamado crime de responsabilidade? Hoje, um dos ministros do STF afirmou que as portas ainda não estão fechadas para a contestação desse pedido de impeachment. Mas essa "aberração" segue em frente, apesar das advertências, do mandado de segurança impetrado pela AGU, com apoio até de entidades como a OAB que, pela sua natureza, deveria estar do lado da legalidade, da defesa do Estado Democrático de Direito. Pois foi esta entidade que, ainda não satisfeita por esta violação constitucional, ainda protocolou um outro pedido de impeachment contra a presidente. 

Ontem fomos até um pouco pessimista sobre a viabilidade de o Governo Dilma Rousseff obter os 172 votos suficientes para impedir que esta imoralidade seja concretizada. Mas, sabe como é que é. As negociações entre conspiradores incluem muito blefes, muitas manhas e artimanhas. Na hora "H" alguns deles perceberam que poderiam estar sendo enganados pelo conspirador-mor da República, o senhor Michel Temer. Segundo comentários de bastidores, ele estaria oferecendo os mesmo cargos a mais de um partido ou parlamentar. A chapa esquentou e ele, que desejava ficar em São Paulo durante o rito de votação - previsto para começar amanhã a partir das 14:00 horas -, voltou às pressas a Brasília.   

Essa "esperteza" de Temer pode ter desequilibrado o placar em favor do Governo. Vamos aguardar a votação de manhã, ir às ruas, permanecer mobilizados pelas redes sociais, sempre alerta em defesa do Estado Democrático de Direito. Hoje, publicamos aqui pelo blog alguns postagens sobre o Day After, onde a palavra de ordem é, seja qual for o resultado da votação de amanhã, continuarmos "acampados" em defesa da democracia. 

Um outro fato que alcançou ampla repercussão nas redes sociais foi a declaração de voto do senador Cristovam Buarque (PPS), já comentada aqui pelo cientista político Michel Zaidan Filho. O senador assemelha-se a uma nau sem rumo, trocando de partido como quem troca de cuecas, mas perdido do que cachorro em dia de mudanças. Findou se filiando ao PPS, ladeado hoje por figuras emblemáticas da cena política nacional, com outros trânsfugas, assim como Raul Jungmann e Roberto Freire. Definitivamente, Cristovam atirou sua biografia e trajetória política na lata do lixo, ao declarar voto a favor do impeachment. Para mim e para todos que acompanharam sua carreira política e intelectual é uma grande decepção.

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