terça-feira, 17 de novembro de 2009

Eu prefiro LULA, pois ele não se acovarda ao assumir a paternidade de um filho!


Psicanalistas analisam reações que movem Lula e FH

Flávio Freire

SÃO PAULO – O desejo de eternizar-se no poder é visto como um dos fatores psicológicos que poderiam explicar tanto atrito na relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu antecessor Fernando Henrique Cardoso. Psicanalistas levaram ao divã, a pedido do GLOBO, o histórico de manifestações que os colocam no centro de duelos verbais. Às turras no campo político-eleitoral, os dois são vistos, segundo essas análises genéricas, como figuras tão antagônicas quanto complementares, o que explicaria a sensação de incômodo que um tem em relação ao outro.

- A relação entre os dois tem amor e ódio, ambivalências, como numa relação entre pai e filho ou entre irmãos, mais novo e mais velho, com rivalidade fraterna. Há indubitavelmente uma admiração mútua nem sempre reconhecida – analisa o presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Plínio Montagna.

Nas últimas semanas, lula reagiu com veemência às críticas de Fernando Henrique, para quem, em artigo publicado no GLOBO, há um clima de subperonismo no governo. Lula, sem esconder a irritação, disse que o PSDB usa as mesmas táticas de Hitler quando treina cabos eleitorais para combater a continuidade do PT no poder. Ao analisar as reações de Lula quando confrontado pelo ex-presidente, o psicanalista considera a ausência da figura paterna na vida do presidente.

- A relação de Lula com os companheiros foi e é sempre de igual para igual. Sua relação é muito mais de irmão para irmão, não da ordem intergeracional, pai e filho, mas sim entre pares. Fernando Henrique poderia ser uma figura admirada por Lula, paternal, à qual foi preciso destronar, mas, a rigor, sem cometer parricídio intelectual porque o respeita, com todas as diferenças que existem entre eles – afirma Montagna, que continua:

- Fernando Henrique é o mestre, o professor, figura paterna que Lula não pode seguir. Autodidata como Lula é, não cabe um mestre, como tal, em sua vida.

Nessa linha, Montagna diz que o ex-presidente, “que nunca escondeu sua filiação a grandes nomes da sociologia”, teria dificuldade de reconhecer que sua imagem fora suplantada por um sucessor.

- O ex-presidente viu suas ações serem negadas por Lula, viu uma imensa popularidade deste, viu o país ascender enormemente no âmbito internacional, e com aquele que talvez considerasse como uma espécie de filho rebelde, malgrado todas as diferenças. A questão de Fernando Henrique parece narcísica, no sentido que sua imagem passa a ser suplantada pelo sucessor. Lula, tão orgulhoso de si, soa como intolerável para Fernando Henrique.

Num trecho do artigo em que criticou Lula e seu governo, o ex-presidente fala em desvios acumulados, transgressões. Diz o texto: “Como dizia o príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal”. Montagna analisa:

- Ele (FH) talvez se sinta como o príncipe tresloucado por ver sua imagem, sua obra desfigurada e até sua paternidade negada ou irreconhecível.

Já o presidente da Associação Nacional de Psicanálise Clínica (ANPC), Dionísio Fleitas Maidana, analisa Lula e Fernando Henrique como “figuras paternas do povo”. E também usou a figura do pai para uma análise genérica da relação afetiva.

- São duas figuras arquetípicas. Indiscutivelmente representantes do que poderíamos chamar de figuras paternas do povo. O povo precisa de um pai, e eles sabem disso. FH representa, ou quer representar, o pai da classe intelectual, e Lula, a classe dos miseráveis – analisa Maidana.

Com citações de Freud, Lacan e Jung, o psicanalista avalia que os dois estão investidos de um poder coletivo que deixa suas individualidades “num canto da vida”:

- Ninguém que assume o poder pode ser psicanalisado como simples pessoa. Carrega a sina do poder e o desejo de eternizar-se nele. Logo, analisar Fernando Henrique ou Lula, do ponto de vista psicanalítico, seria falso. Nenhum pai consegue fazer seu sucessor. E se fizer, será traído. Até porque, se estão investidos pela força do coletivo, não há a mínima chance da permissão do povo.

Do Nassif


Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...