Via Correio Braziliense
Mesmo em tempos de redemocratização, a instituição de ensino superior brasiliense continuou a ser monitorada por espiões do SNI, o serviço secreto do governo. Os informantes acompanhavam as atividades dos professores e preenchiam relatórios detalhados
Renato Alves e Edson Luiz
Os militares não deram sossego a alunos, professores e
funcionários da Universidade de Brasília (UnB) nem com o fim da
ditadura. Agentes do regime espionaram a comunidade acadêmica pelo menos
até 1988, três anos após a redemocratização do país. Documentos
sigilosos aos quais o Correio teve acesso comprovam as ações de
integrantes do Serviço Nacional de Informações (SNI), o temido órgão que
perseguiu, prendeu, torturou e matou milhares de brasileiros. Com os
carimbos de “secreto” e “confidencial”, as 156 páginas traçam uma
radiografia da UnB, na ótica dos informantes do regime de exceção,
baseados em seus relatórios elaborados desde a tomada do poder pelos
militares. O material revela como a ditadura sufocou a maior
universidade da Região Centro-Oeste, com o intuito de eliminar os ideais
de Darcy Ribeiro e os opositores do regime totalitário. A instituição
de ensino completa 50 anos no próximo dia 21. O golpe militar fez 48 no
último dia 31.
"Caixa de ressonância dos ideais de esquerda"
Após
o fim da ditadura, o SNI elaborou relatórios regularmente entre 1985 e
1988. Em todos, os agentes demonstram preocupação com a redemocratização
da UnB. Qualquer medida para tornar a universidade mais igualitária e
aberta era vista como uma ameaça à qualidade do ensino superior e um
elemento de “caixa de ressonância dos ideais progressistas de esquerda”,
conforme destaca um dossiê concluído em 5 de abril de 1988.
Agentes
dos órgãos de repressão relatavam o descontentamento com reuniões no
câmpus da UnB em que o tema principal era a democracia na universidade.
“Nesta linha de ação, em 1987, foi criada uma comissão paritária,
formada por professores e alunos, que passou a dirigir o Departamento de
História nos assuntos administrativos e acadêmicos”, conta, como algo
inadmissível, o analista do dossiê de abril de 1988.
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