Para chanceler brasileiro, não há como o Reino Unido ignorar os princípios de inviolabilidade de representações diplomáticas
Diante da tensão instalada após a diplomacia britânica se revelar disposta a invadir a embaixada do Equador em Londres para capturar o jornalista Julian Assange, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, disse nesta sexta-feira (17/08) que se solidariza com o governo de Rafael Correa e que não há como ignorar a “inviolabilidade das instalações das representações diplomáticas no exterior”.
Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro alegou que há inclusive uma
declaração do Conselho de Segurança das Nações Unidas que ratifica o
apoio de todos os seus membros (inclusive o do Reino Unido) ao princípio
de inviolabilidade de representações diplomáticas presente na Convenção
de Viena. Para tanto, recordou o episódio de 2011, quando o Conselho de
Segurança condenou os ataques de cidadãos iranianos aos escritórios
britânicos de Teerã.
De acordo com o artigo 22 da Convenção de Viena, “os locais da missão
[diplomática] são invioláveis” e os agentes do estado acreditado, isto
é, do estado que acolhe uma representação, “não podem neles penetrar sem
o consentimento do Chefe da missão”. Mais além, é também função do
Reino Unido nesse caso “adotar todas as medidas apropriadas para
proteger os locais da Missão contra qualquer intrusão” e “evitar
perturbações” a sua “tranquilidade” ou “dignidade”. No que diz respeito à
essas determinações, Patriota disse que o Brasil se “solidariza” com o
Equador.
Assange aguardava a concessão de um asilo político do Equador desde o
dia 19 de junho, quando deixou sua prisão domiciliar e ingressou na
embaixada do país em Londres. A resposta positiva veio nesta
quinta-feira (16/08) e agora diplomatas do governo de Rafael Correa
buscam meios de tirar o jornalista do Reino Unido.
O fundador do Wikileaks se refugiou na embaixada do Equador após não
ter mais como recorrer das decisões da Justiça do Reino Unido em favor
de sua extradição para a Suécia, onde é acusado de crimes sexuais. Seu
argumento é de que todo este processo representa uma grande perseguição
política originada a partir da revelação de vários documentos sigilosos
de estado, em especial de dados secretos da diplomacia dos Estados
Unidos.
Ainda neste fim de semana, a Unasul (União das Nações Sul-Americanas)
promoverá um encontro de diplomatas em Guayaquil, no Equador, para
tratar do impasse. Não é certo ainda se Patriota participará
pessoalmente das reuniões e é provável que o Itamaraty envie o
embaixador responsável por assuntos latino-americanos, Antônio Simões.
Também na próxima quinta-feira (23/08), está agendada uma reunião de chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos) em Washington.
Nenhum comentário:
Postar um comentário