sexta-feira, 18 de março de 2011

Destruição e criação

Desastres são bons para a economia? A destruição pode mesmo criar riqueza impulsionando a produção de um país?

A política seguida por muitos governos geralmente nos fazem pensar que sim e, sem dúvida nenhuma, existem muitos proponentes de tal ideia. Não que sejam indivíduos cruéis que têm prazer na destruição. O problema é apenas uma questão de não atentarem para as consequências que não se podem ser percebidas tão claramente.

Larry Summers, professor da Universidade Harvard e que também foi diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca e economista do Banco Mundial, defende que o recente terremoto no Japão ironicamente servirá de estímulo para a economia daquele país.
 

E essa ideia é frequentemente apoiada por outros economistas e especialistas.

Defensores da ideia de que a destruição causada por desastres naturais e guerras estimula a economia pensam do mesmo modo que pensavam os moradores do vilarejo onde se passa a história contada por Fréderic Bastiat na sua exposição da falácia da vidraça quebrada.

Bastiat usa o exemplo de um menino que, com uma pedrada, quebra a vidraça de uma casa do vilarejo onde mora. De vilão, ele rapidamente passa a ser visto como herói, por supostamente estimular a economia, criando trabalho para o vidraceiro.

Mas os que o viram como herói, não perceberam que o dinheiro que o dono da janela atingida agora teria de gastar comprando uma nova vidraça poderia ter sido gasto em um par de sapatos novos ou em um livro para a sua biblioteca.

Fazendo isso, ele estaria em situação muito melhor, com a sua vidraça intacta e usando os sapatos recém adquiridos ou lendo o seu livro novo. A comunidade local, da mesma maneira, estaria mais rica, pois bens extras teriam sido produzidos.

Na tragédia do Japão, os milhares de prédios e casas destruídos, as estradas devastadas e cidades invadidas pela água do mar seriam oportunidades para empreiteiros, engenheiros e pedreiros trabalharem incessantemente para a reconstrução das áreas atingidas pela catástrofe.

Seria criado mais trabalho para esses setores da economia, o que, consequentemente, levaria a um maior consumo, estimulando cada vez mais áreas da economia, para no final das contas gerar um estado de prosperidade generalizada.

Entretanto, o que não se vê facilmente é que, sem o desastre, o dinheiro dos donos das propriedades destruídas poderia ter sido despendido em algo para aumentar o seu conforto e redirecionar recursos para outras atividades. Talvez eles pudessem comprar um carro, um computador ou móveis novos.

Com o desastre, seus recursos serão agora usados para construir mais uma vez o que eles antes já possuíam e repor todos os seus bens que foram destruídos. Os recursos apenas serão desviados do seu uso intencinado (carro, computador, móveis) para o uso de emergência (tijolos, cimento, telhas, por exemplo).

Com isso, riqueza nenhuma é criada e o bem-estar dos indivíduos de maneira nenhuma aumenta. Pelo contrário, diminuirá por causa da inconveniência de terem de lidar com a perda do que era sua propriedade e de terem de despender tempo e recursos novamente para recuperá-la. A sociedade como um todo, por fim, está mais pobre.

Precisamos sempre analisar as circunstâncias e investigar as consequências não tão óbvias de qualquer fato ou política para que não sejamos ingênuos e para que possamos derrubar velhos mitos que, frequentemente alimentados por muitos, se recusam a desaparecer.

Por Elisa Lucena Martins

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