Por Mário Augusto Jakobskind
Rui Martins escreveu artigo esclarecedor neste espaço democrático
do DR sobre o caso Julian Assange, que está sendo vítima da truculência
vitoriana britânica. O Primeiro-Ministro David Cameron, novo
cachorrinho dos Estados Unidos, como foi Tony Blair, ainda raciocina
como se o mundo fosse uma colônia do Reino Unido. O país da Rainha
Elizabeth II não tem voo próprio, é uma nação decadente e que se
submete, sem pestanejar, aos interesses dos Estados Unidos.
É por aí também que se entende melhor as ameaças do Reino Unido ao Equador.
O episódio comporta outras leituras, por exemplo, a escolha de
Assange em pedir asilo ao governo do Equador. Ele fez uma opção política
por entender que o governo equatoriano de Rafael Correa, ao contrário
do que afirma a mídia de mercado, respeita as liberdades de expressão e
imprensa.
Em seu primeiro pronunciamento público desde a sacada da Embaixada
equatoriana em Londres, Assange exortou todos a defenderem a liberdade
de expressão e pediu a libertação de presos políticos que foram
sentenciados por colaborarem com o site WikiLeaks. Ele acusou a Scotland
Yard de ter tentado entrar na embaixada para prendê-lo e só não o fez
porque havia várias testemunhas. A polícia britânica negou a acusação.
O caso Assange é um exemplo concreto da importância de se manter
essas liberdades e se ele optou pelo Equador não deixa de ser também um
recado segundo o qual confia nas autoridades do país sul-americano no
sentido de garantir o trabalho que vem e continuará desenvolvendo com
total liberdade.
Um fato importante não pode ser deixado de lado para entender o ramo
sueco das pressões no sentido da extradição de Assange. A Justiça do
país nórdico o acusa de ter supostamente cometido assédio sexual sem o
uso de camisinha contra duas mulheres.
O acusado nega que tal fato tenha acontecido. E é realmente no mínimo
estranho que em um país como a Suécia, conhecido como vanguardista em
termos de liberalismo no campo sexual, aconteça o que as autoridades do
país dizem ter acontecido.
Praticamente nenhum veículo da mídia de mercado informou sobre quem é
Annita Ardin, uma das acusadoras. Nesse sentido consta do site América
Latina em Movimento/Alai, que ajuda a entender melhor os bastidores do
caso.
No artigo assinado pelo jornalista Félix Población, da Alai, é
informado que Annita nasceu em Cuba e trabalhou durante alguns anos para
o grupo Damas de Branco, que combate sem tréguas o regime socialista da
ilha caribenha e é acusado de receber ajuda em dólares de entidades
governamentais estadunidenses. Ela colaborou para a revista Miscelâneas Cubanas,
cuja especialidade é combater o que considera ser “ditadura castrista”,
tendo sido dirigida pelo opositor Carlos Alberto Montaner, que, segundo
o professor Michael Seltzer, é uma figura vinculada à CIA, o serviço de
inteligência estadunidense.
As revelações sobre Annita tornaram-se públicas depois de rigorosa
investigação realizada por Israel Shamir e Paul Bennett, divulgada no
espaço eletrônico Counter Punch.
E tem mais ainda. Annita é figura de estreitas ligações com o
secretário geral das juventudes democratas cristãs da Suécia, o cidadão
Jens Aron Modig, companheiro de viagem do dirigente do grupo Novas
Gerações do espanhol Partido Popular, Angel Carromero, que está preso em
Cuba devido ao acidente automobilístico em que morreu o dissidente
político cubano Osvaldo Payá. Carromero é acusado pelas autoridades
cubanas de dirigir o carro acidentado em alta velocidade.
Annita Ardin é acusada também de ter ido a Cuba para cumprir a mesma
tarefa do democrata cristão sueco Modig e do espanhol Carromero, ou
seja, financiar focos da dissidência existentes na ilha caribenha. A
revelação foi feita pelo próprio dissidente do regime cubano Manuel
Cuesta Muroa, que disse ainda terem sido doados 4 mil euros a Osvaldo
Payá.
Annita Ardin é uma mulher jovem, bonita e atraente, sem dúvida, como
demonstram as fotos. Há fortes indícios de que não é tão inocente como
pretende parecer.
Todos esses fatos geram dúvidas realmente se a acusação de Annita
procede ou se ela foi mesmo designada pela CIA para cumprir uma missão
contra Assange.
Outra coisa é certa. Se a Justiça sueca estivesse mesmo interessada
em esclarecer o fato mandaria representantes ouvir Assange na Embaixada
do Equador em Londres.
O ódio do governo dos EUA contra Assange é tão avassalador que, como
comentou Rui Martins, levou o pau mandado governo britânico a fazer
ameaças que subvertem totalmente o direito internacional na questão da
concessão de asilo político.
Cabe agora a governos e movimentos sociais em todo mundo exigir do
Primeiro Ministro David Cameron o respeito à lei. Porque se isso não
acontecer estará sendo aberto precedente que poderá representar o
fortalecimento do retrocesso aos tempos vitorianos e das canhoneiras,
como acontecia no século XIX, que se prolongou no século XX e persiste
no XXI com bombardeios aéreos e financiamentos de grupos opositores a
regimes, não porque sejam autoritários, como alegam hipocritamente
países do Ocidente, mas por não seguirem o receituário dos EUA.
O posicionamento da Unasul de apoio ao governo do Equador merece aplauso de todos os latino-americanos.
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