Olá professor Diógenes, hoje tive uma discussão acalorada com um professor de física a respeito do "presidenta" que Dilma utiliza. Disse a ele que o uso está correto e que inclusive consta no dicionário, mas ele, misturando ódio político com língua portuguesa, não aceitava o que dizia e retrucava que se fôssemos olhar nessa ótica chamar alguém de "gerenta" estaria correto. Não estou discutindo méritos partidários ou políticos, sei que o uso está correto mas queria uma explicação acadêmica sobre. Desde já obrigado.
Primeiro, com todo o respeito, o professor deve ter conhecimento de causa para falar de um ponto de vista linguístico. Se acha que tem, está redondamente enganado, pela posição que tomou. Segundo, a questão não é partidária, mas linguística. Faça com que ele entenda isso. Se ele não entender, é porque está tomado por um estreitismo que leva à ignorância.
Mas vamos ao que interessa:
Toda língua é um ser vivo e a linguística moderna assim a concebe. Partindo desse pressuposto, não se deve desconsiderar um fato linguístico [o uso da palavra "presidentA"], já que qualquer fato linguístico, inclusive a flexão de um nome, só terá guarida se a comunidade linguística na qual esse fato venha a estar inserido fizer uso dele. Sempre foi assim. Determinadas expressões passam a ser incorporadas à língua pelo uso e quem tem o poder de definir esse uso são os falantes da língua.
A língua é um sistema e tem caráter social, como diria o linguista Ferdinand de Sausure. Desse modo, ela está atrelada a um "contrato social", convencional e quem "assina" o tal "contrato" são os membros de determinada comunidade linguística. Ao ser usado com frequência, como me parece que esteja havendo isso, o termo "presidentA" passa a existir na língua. Então, essa de "na língua não existe" soa como a não percepção da vivacidade da língua. Já imaginou se pensássemos assim sempre? O que seria do pronome VOCÊ? O que seria da palavra MANHÃ? Elas não eram assim. A visão do professor pareceu-me estagnar a língua e seu mover para adiante. A língua nunca será estática. Nenhuma língua.
O fato de a palavra "gerente" não produzir um feminino do tipo "gerentA", como ele tenta argumentar, está ligado ao não uso pelos falantes da língua portuguesa.
2 comentários:
Olá professor Diógenes, hoje tive uma discussão acalorada com um professor de física a respeito do "presidenta" que Dilma utiliza. Disse a ele que o uso está correto e que inclusive consta no dicionário, mas ele, misturando ódio político com língua portuguesa, não aceitava o que dizia e retrucava que se fôssemos olhar nessa ótica chamar alguém de "gerenta" estaria correto. Não estou discutindo méritos partidários ou políticos, sei que o uso está correto mas queria uma explicação acadêmica sobre. Desde já obrigado.
Olá, José Agenaldo!
Primeiro, com todo o respeito, o professor deve ter conhecimento de causa para falar de um ponto de vista linguístico. Se acha que tem, está redondamente enganado, pela posição que tomou. Segundo, a questão não é partidária, mas linguística. Faça com que ele entenda isso. Se ele não entender, é porque está tomado por um estreitismo que leva à ignorância.
Mas vamos ao que interessa:
Toda língua é um ser vivo e a linguística moderna assim a concebe. Partindo desse pressuposto, não se deve desconsiderar um fato linguístico [o uso da palavra "presidentA"], já que qualquer fato linguístico, inclusive a flexão de um nome, só terá guarida se a comunidade linguística na qual esse fato venha a estar inserido fizer uso dele. Sempre foi assim. Determinadas expressões passam a ser incorporadas à língua pelo uso e quem tem o poder de definir esse uso são os falantes da língua.
A língua é um sistema e tem caráter social, como diria o linguista Ferdinand de Sausure. Desse modo, ela está atrelada a um "contrato social", convencional e quem "assina" o tal "contrato" são os membros de determinada comunidade linguística. Ao ser usado com frequência, como me parece que esteja havendo isso, o termo "presidentA" passa a existir na língua. Então, essa de "na língua não existe" soa como a não percepção da vivacidade da língua. Já imaginou se pensássemos assim sempre? O que seria do pronome VOCÊ? O que seria da palavra MANHÃ? Elas não eram assim. A visão do professor pareceu-me estagnar a língua e seu mover para adiante. A língua nunca será estática. Nenhuma língua.
O fato de a palavra "gerente" não produzir um feminino do tipo "gerentA", como ele tenta argumentar, está ligado ao não uso pelos falantes da língua portuguesa.
Grande abraço!
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